Bares e discotecas podem não reabrir no Verão. Aviso de Costa assusta sector
O primeiro-ministro admite que animação nocturna faz parte das actividades que estão “no último lugar daquelas que poderão reabrir”. Empresários confessam-se preocupados e pedem que o Governo e a DGS os ouçam.
O primeiro-ministro reconhece que ainda não é o momento para abrir bares e discotecas, e que pode até pode até dar-se o caso de não reabram durante todo o Verão, “se for necessário”. Em entrevista à TSF, esta segunda-feira, António Costa admitiu que ainda não há datas pensadas para a reabertura deste tipo de estabelecimentos. Um aviso que veio agravar a preocupação do sector.
“Ainda não está no nosso calendário. Nós temos que ir fazendo de uma forma gradual e começando pelos sectores de actividade em que é mais fácil regular e estabelecer normas de afastamento. Ora, actividades que pela sua própria natureza vivem não do afastamento, mas, pelo contrário, da proximidade e da interacção, é evidente que estarão no último lugar daquelas que poderão reabrir”, começou por dizer o primeiro-ministro.
Questionado se os bares e discotecas podem não abrir este Verão, Costa respondeu: “Se for necessário. Se não for, melhor. Se for, terá que ser. Não podemos pôr agora em causa aquilo que conseguimos com enorme dificuldade das pessoas. Há pessoas que estão há dois meses sem sair de casa. Só hoje as famílias vão poder voltar a visitar os seus familiares em lares. Só hoje os pais vão poder colocar as suas crianças nas creches. E fazem-no com o coração divididíssimo, sem saber se tal é um risco para criança”, disse. E insistiu: “Não podemos pôr em causa aquilo que conquistámos.” E lembrou um critério: “O máximo de contenção, o mínimo de perturbação.”
A Associação de Bares da Zona Histórica o Porto (ABZHP) já reagiu às declarações. António Fonseca, presidente da ABZHP, confessou ao PÚBLICO que as declarações do primeiro-ministro vêm “agravar a preocupação” do sector. “Se [os estabelecimentos] não abrirem este ano, o que se vai fazer às pessoas?”
Ciente de que as posições do Governo podem ir “evoluindo de um dia para o outro”, António Fonseca voltou a reforçar que os proprietários de estabelecimentos de animação nocturna querem “saber que são ouvidos”, tanto pelo executivo como pela Direcção-Geral de Saúde (DGS), ainda mais quando está em cima da mesa a possibilidade de não haver reabertura ainda durante o Verão.
A ABZHP está ciente das circunstâncias e garante que a prioridade é abertura dos espaços “com segurança” e, por isso, quer conversar para “procurar soluções” com o Governo e a DGS para possíveis apoios e sobre a preparação do sector para medidas de higiene e segurança que poderão ser tomadas. Mais do que pelas declarações desta segunda-feira, António Fonseca admite que os empresários estão preocupados por não haver diálogo”, apesar das várias tentativas já feitas.
O sector enviou na quinta-feira uma carta ao Governo com um pacote de medidas que poderiam salvar bares e discotecas. Os empresários pedem a isenção de todos os pagamentos à Segurança Social e Finanças (com excepção do IVA), a isenção da Taxa Social Única para os anos de 2020 e 2021 e um apoio a “fundo perdido da verba correspondente aos salários dos postos efectivos durante o período mínimo de nove meses, desde que os postos de trabalho à data do encerramento se mantenham”, entre outras medidas.
A falta de uma data pensada para a reabertura dos bares e discotecas também é motivo de preocupação para Paulo Dâmaso, vice-presidente da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) para o sector da animação nocturna, isto porque “os empresários querem transmitir um horizonte” aos milhares de trabalhadores que o sector emprega directamente. “Tem de haver uma orientação para sabermos com o que contamos”, afirmou.
Apesar disso, as declarações de António Costa “não são estranhas, são até declarações com sensatez”, diz Paulo Dâmaso. “Não interpretamos como uma sentença de morte para o sector porque o senhor primeiro-ministro com certeza tem consciência da importância que o sector tem, não só no aspecto económico mas também no aspecto da saúde pública, em termos psicológicos e do bem-estar das pessoas.”
O vice-presidente da AHRESP e administrador do Grupo K afirmou que a associação tem estado em contacto com as entidades competentes, tendo apresentado “uma série de propostas” que garantem a segurança e a higiene nos estabelecimentos, prioritárias para os empresários.
“Estamos preparados – e é aqui que estamos a apostar – para adoptar todas as medidas que venham a ser determinadas. Também para nós é importante transmitir confiança aos clientes”, garantiu Paulo Dâmaso, confiante de que, com “tudo a correr normalmente”, os estabelecimentos de animação nocturna poderão “retomar a actividade até ao início de Julho”.
A Associação de Discotecas do Sul e Algarve (ADSA) não vê que o cenário de bares e discotecas encerrados durante o Verão “possa ter alguma viabilidade”, admitindo-o apenas no caso de o Governo assumir “as despesas e prejuízos” associadas a uma decisão dessas.
“Se toda a actividade económica está gradualmente a abrir, nós não somos filhos pródigos, acho que os bares e discotecas terão de funcionar também”, disse ao PÚBLICO o presidente da ADSA. Liberto Mealha espera que, pelo menos durante o mês de Junho, haja “luz verde” para o sector, para que os estabelecimentos possam tentar “tirar algum proveito do Verão”, sempre com total respeito pelas medidas que eventualmente sejam exigidas.
A ADSA reconhece que as discotecas estavam “preparadas para abrir mais tarde”, mas não para ficarem encerradas durante aqueles que acabam por ser “os meses mais fortes”. “É um sector que não pode ficar marginalizado.”
Notícia actualizada às 17h03 com as declarações de Paulo Dâmaso.