Um desafio para Lisboa: sem abrigo não podem voltar para a rua
Tudo o que for necessário tem de ser feito para garantir um desígnio enquanto sociedade: quem foi acolhido não volta para a rua. Todos têm direito a um teto.
Vivemos um momento de grave crise social, económica e de saúde pública. Todos temos a percepção que muitas pessoas caíram na rua nas últimas semanas. Perdem o salário, perdem a casa, perdem tudo. Sabemos que há milhares de pessoas que não por quebra nos rendimentos também já não têm possibilidade de se alimentar. Estamos a regredir a um passado que não queríamos ver mais. Mas há respostas à crise social.
Perante esta calamidade, a Câmara Municipal de Lisboa abriu quatro centros de acolhimento de emergência para as pessoas em situação de sem abrigo. Acolhemos todo o tipo de pessoas, desde aquela que vive há dez anos na rua como aquela que acabou de perder o rendimento e, consequentemente, a casa. São mulheres, homens, casais, pessoas jovens e menos jovens. Todos com uma condição transversal: não têm um teto, nem forma de se proteger do vírus.
Hoje temos mais de 200 pessoas em equipamentos por toda a cidade, desde o Parque das Nações até Benfica. Estão protegidas do vírus, têm garantida alimentação, higiene e segurança. Nestes centros, têm tarefas coletivas, atividades culturais, triagem e acompanhamento de saúde, respostas dignas para os seus consumos assim como mecanismos para deixar de consumir e são encaminhados para o mais importante: casa e emprego.
Contamos ter até ao Verão cerca de 100 casas do programa “Casas Primeiro” (Housing First) para onde podem ser encaminhadas estas pessoas, assim como vários apartamentos partilhados. Com acompanhamento de profissionais, este é o primeiro passo para que quem morou na rua, quem perdeu tudo, possa reconstruir a sua vida. Primeiro a casa, depois emprego e autonomização.
Não é fácil construir respostas de habitação permanentes tão rapidamente como esta crise social obriga para todas as pessoas que estão atualmente nos centros, quanto mais para todas as pessoas que continuam na rua. É impensável baixar os braços e muito menos tirar o chão (e o teto) a quem está sob o nosso cuidado enquanto cidade.
O Bloco de Esquerda quer desafiar os restantes partidos a assumir um compromisso pela cidade: ninguém pode voltar para a rua.
As respostas atuais nos pavilhões municipais e outros espaços têm de ter continuidade. Mais importante, têm de ser garantidas soluções permanentes e dignas a estas pessoas. Temos também de mobilizar imobiliário do Estado para garantir este compromisso, sejam quartéis militares sem utilização, antigos hospitais ou outros edifícios vazios, como sabemos existirem tantos. É preciso assegurar imóveis do setor privado e se preciso for, construir habitação municipal.
Tudo o que for necessário tem de ser feito para garantir um desígnio enquanto sociedade: quem foi acolhido não volta para a rua. Todos têm direito a um teto.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico