Fotografia
“Porque a amizade não fica em pausa”, Pedro e Helena retratam as suas Gentes por telemóvel
O fotógrafo Pedro Vilela e a esposa, Helena Gomes, “adoram pessoas”. Adoram conversar com elas, conhecer as suas histórias e fotografá-las. E, por esse motivo, criaram, em Maio de 2019, o projecto Gentes, que reúne retratos de dezenas de “amigos e conhecidos que têm algo interessante para dizer”, explica Pedro ao P3, em entrevista telefónica. Era a partir do estúdio do casal, em Lisboa, que mantinham esses encontros e através do Instagram que os davam a conhecer ao mundo. Mas com a pandemia de covid-19, tudo mudou.
De armas e bagagens, a família rumou para a segunda casa, em Melgaço. O negócio que sustenta o casal, o da fotografia de casamento, registou uma quebra abrupta. “Adiamentos, adiamentos”, lamenta o fotógrafo. “Quase arrisco afirmar que ninguém se irá casar este ano.” As preocupações são muitas, assim como a ansiedade que sentem em relação ao futuro. Entre “os coelhos, as galinhas, as vinhas e a telescola”, o dia-a-dia da família ficou virado do avesso.
Foi, por isso, à procura de um sentido de normalidade, de continuidade, que Pedro e Helena decidiram dar seguimento ao projecto Gentes, mesmo longe do estúdio. “Aproveitamos este tempo de confinamento para entrar em contacto com amigos e começámos a fotografá-los enquanto conversávamos por videoconferência, através do WhatsApp.” E os amigos têm respondido de forma “muito positiva”. “Muitos deles até preparam o cenário em que vão ser fotografados”, refere. “Sabem que a imagem vai ser partilhada nas redes e querem que tudo fique perfeito. E nós damos-lhes o espaço de que precisam para se exprimirem. Sabem que, mesmo no estúdio, teriam esse espaço.”
Com uma fórmula bem definida, Pedro faz o retrato e Helena redige os textos que dão um sentido às imagens e podem ser lidos no Instagram. O encontro decorre sempre a partir de Melgaço, reflectido num ecrã de telemóvel; mas, do outro lado, estão pessoas que podem estar em qualquer parte do mundo. “Acompanhámos, por exemplo, as peripécias do atribulado regresso de férias no Vietname de um casal amigo. Perderam mil voos antes de cá chegar.” Amigos que estão prestes a ser pais também fazem parte do conjunto. “A diversidade é imensa. Cabe no projecto toda a gente que conhecemos e consideramos interessante.”
As conversas que vão tendo com os retratados são quase uma forma de terapia. “Passar algum tempo com estas pessoas, perguntar-lhes como estão a viver este mês, tem servido para aliviar a ansiedade, manter a actividade. Fotografar diariamente obriga-nos a manter uma estrutura de trabalho e a não pensar tanto na mesma coisa a toda a hora.” O fotógrafo, que é ex-estagiário do PÚBLICO, e a esposa continuam a ir “de porta em porta”, mesmo em tempo de isolamento. “Porque a conversa não acaba e a amizade não fica em pausa.” E a Fotografia também não.