Guias de cidades Le Periplo: “Acreditamos que vamos passar do global para o local”
Estes guias, em papel e não só, nasceram antes de a pandemia ter mudado o mundo que todos queríamos conhecer. “De certa forma vamos voltar às origens”, defendem as espanholas Flor e Sandra, que já lançaram as edições do Porto e de Aveiro.
Nasceu antes da pandemia que mudou as nossas vidas e nas suas páginas já defendia viagens “calmas, conscientes, respeitosas e responsáveis”. “Agora, mais do que nunca, é assim que devemos viajar”, explicam à Fugas as fundadoras das edições Le Periplo, guias de cidades para os que querem sentir-se mais residentes do que turistas e para os que não querem que tudo volte a ser como dantes. “No dia-a-dia, encontraremos uma sociedade mais cívica e consciente. Por outro lado, pensamos que a nível ambiental serão criados hábitos de mobilidade mais sustentáveis. Vamos voltar a sintonizar-nos com a nossa cidade, com a cultura e as tradições de uma maneira mais local. De certa forma vamos voltar às origens, a como as coisas eram antes de existir uma mobilidade global. Acreditamos que vamos passar do global para o local”.
Périplo é uma viagem à volta de um continente, de uma região ou de um país — e o relato dessa viagem. Le Periplo são guias (em espanhol) em papel (e não só) criados entre Madrid e Barcelona que pretendem ser diferentes dos tradicionais, apontando caminhos através das cidades a exploradores e não tanto a turistas. A Fugas perguntou a Flor e Sandra se existe uma diferença. “Um explorador é uma pessoa que se quer integrar e fazer parte dessa cidade, procurando falar o idioma, entender as idiossincrasias, conhecer lugares especiais e experiências que não têm na sua cidade. Um explorador viaja para descobrir uma outra perspectiva de entender a vida”.
Flor vive em Madrid é licenciada em Sociologia e há três anos que se dedica a fotografia de produto, design e direcção de arte. Sandra vive em Barcelona, é designer gráfica e directora de arte com dez anos de experiência. Conheceram-se via Instagram em Setembro de 2018 e imediatamente surgiu a ideia de combinar todas as suas valências num guia que indicasse uma forma mais fresca de viajar e que se ajustasse a todos os “exploradores de cidades”. “Aqueles que, como costumamos dizer, gostam de se sentir como residentes”, traduzem as fundadoras das edições Le Periplo, que “defendem” cidades menos conhecidas ou aquelas que têm um lado B, “um segundo lado menos explorado”.
Entre vários os destinos publicados, Le Periplo já dedicou uma edição de 116 páginas ao Porto e outra de 32 páginas a Aveiro/Costa Nova, esta com uma lombada amarela e a capa às riscas brancas e azuis verticais como os tradicionais palheiros da Costa Nova — “que criam uma sensação de felicidade e de Verão permanente”.
Todas as cidades são “exploradas e testadas” pelas duas amigas. Flor fez uma viagem de Norte a Sul de Portugal e rapidamente “ficou claro” que o Porto “tinha que ser um dos principais guias”. “Cumpria a nossa filosofia”, dizem as autoras. “É uma cidade pequena, muito acessível para visitar, mas com um grande número de elementos culturais e históricos. Com muitas tradições e muito inovadora. Sem esquecer sua grandiosidade gastronómica é uma cidade esteticamente muito visual.”
Cada guia tem uma imagem limpa e atemporal, duas cores chave que se desdobram ao longo do guia e um logótipo tipográfico que torna cada número único, mas coeso com os restantes exemplares da colecção. No interior existem páginas em quadrícula como bloco de notas, carimbos de passaporte com mensagens e um sistema iconográfico criado para representar cada dica ou recomendação que termina numa linha inacabada como se fosse uma rota a seguir.
“Uma coisa que detectamos nos guias tradicionais é que a parte visual fica muito escondida perante um excesso de conteúdos. É por isso que no Le Periplo a fotografia, assim como a ilustração, tem um papel muito importante, fazendo-se acompanhar por um cuidado design editorial, que facilita a leitura, mapas e textos concisos, directos e de proximidade. Os nossos guias concentram-se na experiência do que é viver a cidade na actualidade”.
Ainda sem viagens de avião à vista, Flor e Sandra embalam os seus guias numa caixa com uma etiqueta do lado de fora como os autocolantes que acompanham as malas nos aeroportos até ao seu destino. Dentro segue um postal com algumas curiosidades e um marcador de livros que é um cartão de embarque.