Amadora. Centenas de pessoas aglomeram-se em fila para recolha de alimentos
“Cerca de 200 pessoas não respeitavam as normas de distanciamento social” e foi movido um dispositivo policial para o local, disse a PSP.
A zona que rodeia a mesquita da comunidade islâmica da Amadora recebeu, na tarde desta quarta-feira, um aglomerado de pessoas que faziam fila para recolha de alimentos.
Apesar de quase todas usarem máscaras – ou, no mínimo, panos a taparem a boca e o nariz –, a PSP da Amadora confirmou ao PÚBLICO que “cerca de 200 pessoas não respeitavam as normas de distanciamento social” e que foi movido um dispositivo policial para o local.
A PSP esclareceu ainda que “a polícia interveio sem desacatos nem intervenção rígida”. “Foi uma intervenção indicativa e as pessoas cumpriram. Do que sabemos, a situação está calma”, acrescentou.
E ficou, de facto, calma, constatou o PÚBLICO no local. Após a chegada da polícia, que coordenou duas filas de pessoas, a iniciativa acabou por ficar mais coordenada – ainda que o distanciamento social nem sempre tenha sido perfeito social –, com os responsáveis da mesquita a pedirem até à polícia para fechar a fila, dado que a boa quantidade de alimentos disponíveis poderia prolongar a entrega ad aeternum.
Em filas longas, na estrada, junto aos carros e com sacos de tamanho considerável, quem se dirigiu à mesquita parece ter conseguido levar alimentos para casa.
“As pessoas estão lá porque precisam”
Questionado sobre esta iniciativa, o sheik David Munir, líder da mesquita islâmica central de Lisboa, detalhou à TVI24 que “no mês do Ramadão é normal as pessoas distribuírem alimentos para os mais carenciados”, mas lembrou que, fruto da pandemia, foi criada “uma equipa para ir a casa dessas pessoas”.
Elogiando a bondade e generosidade da iniciativa da mesquita da Amadora, lamentou que esta não tenha optado por uma organização mais ponderada, antecipada e com recurso ao apoio das forças policiais e das entidades municipais.
“É uma mesquita pequena, que está a fazer um bom trabalho, mas, acima de tudo, é uma mesquita pequena. Tem de servir de apoio religioso, espiritual e social, mas não nesta virtude. Isto poderia ter sido feito num campo ou num pavilhão, de forma mais organizada e pacífica. Foi tudo um pouco em cima do acontecimento e eles não sabiam que lá iriam tantas pessoas. Se trabalhássemos em equipa, com a câmara municipal, a polícia e os bombeiros, resolveríamos o problema de forma pacífica e generosa”.
Sobre os perigos do ajuntamento, David Munir reconheceu o problema de saúde pública, mas lembrou o desespero das pessoas. “Preocupa-me que facilmente uma pessoa infectada pode contaminar centenas. Essas centenas irão para as suas casas e poderão contaminar outras centenas. Depois, essas vão a um supermercado e contactar com outros. Com isto, estamos a expandir a infecção”, começou por dizer, acrescentando: “Mas também me preocupa que as pessoas estão lá porque precisam. É um problema social. As pessoas estão desesperadas. Muitas até taparam a cara - e não só com a máscara -, porque têm vergonha de lá estar”.