Com um fósforo, o som do atrito e o incêndio de 2000 espectadores inicia-se a minha história com Cannes. É o genérico de Wild at Heart (1990), de David Lynch. Quando se começa assim, violentado, testado (e amado) de forma grandiloquente com a imagem e com o som, o enorme auditório Louis Lumière torna-se arquétipo, “a sala” de uma história pessoal feita de expectativas, fantasias, descobertas e enganos. Uma zona de delícias mas também de dificuldades. Por exemplo: os trabalhos de resistência nas sessões matinais, cobrança que aparece a meio dos festivais, como o pico de uma pandemia de sono a vencer para se chegar ao final em planalto — os últimos dias parecem replicar na sala os estados fisiológicos e mentais das personagens de Apichatpong Weerasethakul.
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