Envelhecer não é pêra doce para a dama Judi Dench. E a idade, sobretudo numa altura em que surge como um factor de risco acrescido numa pandemia que já matou mais de 28 mil no país onde reside, não é tema que a consagrada actriz goste de explorar. “É horrível”, desabafou à Vogue britânica, durante uma entrevista telefónica, já depois de ser aconselhado o confinamento doméstico no país, sobretudo aos mais velhos (e antes de ser tentada a teoria da imunidade de grupo que viria a ser revertida).
Porém, nascida em 1934, os seus 85 anos são claramente notícia: Judi Dench tornou-se a pessoa mais velha a ser capa da Vogue britânica, destronando a igualmente bem-sucedida Jane Fonda.
Mas, não obstante a sua idade, não só não pensa em reformar-se — e até dá uma descompostura ao seu entrevistador: “Não, não, não, não. Não use essa palavra, Giles [Hattersley]. Nesta casa, não. Aqui não. Lave essa boca!” —, como mostra que está perfeitamente adaptada aos dias que correm. Depois de ter feito a sua primeira tatuagem aos 81 anos, descreve o artigo, vale-se da relação próxima com o neto, de 22 anos, para estar a par das últimas tendências: ouve Ed Sheeran e, recentemente, tornou-se fã de futebol.
E, mesmo que a sua carreira esteja em pausa devido ao surto do novo coronavírus (como, de resto, toda a indústria das artes: do palco e cinematográfica), há planos profissionais no futuro a cumprir: sem esclarecer o quê, avança à Vogue, que tem algo combinado para fazer com o realizador Simon Curtis (A Minha Semana com Marilyn) e que tem agendada a filmagem de um episódio da série Who Do You Think You Are?, da BBC.
A conversa prolonga-se ao longo de várias páginas da revista, disponível nas bancas e para download a partir de quinta-feira, e percorre a intensa vida da actriz que deu vida à rainha Vitória, em Vitória e Abdul, de Stephen Frears (2017), ou a Isabel I de Inglaterra, em A Paixão de Shakespeare, de John Madden (1998), numa curta interpretação que lhe valeu o Óscar de melhor actriz secundária.
Mas, ao mesmo tempo que reflecte os tempos actuais — “Estou certa de que me sinto como toda a gente, [são] tempos sem precedentes e muito difíceis de compreender” —, também acaba por não fugir a alguns temas que marcaram a agenda do mundo do cinema nos últimos tempos, como a condenação do ex-produtor Harvey Weinstein, cujo nome esteve ligado a grandes sucessos protagonizados por si. Apesar de dizer que o antigo empresário nunca a abordou, Dench não tem dúvidas: “É bom que as coisas venham à tona e sejam faladas.”