“A máscara não pode ser considerada um acto de fraqueza. Deve ser símbolo de força”
O sucesso das medidas que vão permitir o desconfinamento “está dependente de as encararmos não como um comportamento individual, mas antes como um comportamento colectivo”, diz professora catedrática de Psicologia Social.
A professora catedrática de Psicologia Social Luísa Pedroso Lima diz que Portugal só pode ser bem-sucedido no aligeirar das medidas de desconfinamento devido à pandemia se as pessoas se protegerem pensando no bem dos outros.
A presidente do Conselho Científico do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) afirma que o fim do estado de emergência deve ser encarado pelos portugueses com a mesma responsabilidade que fez deles “um exemplo” até aqui.
Portugal termina este sábado o terceiro período de 15 dias de estado de emergência, iniciado em 19 de Março, e o Governo anunciou a passagem para situação de calamidade a partir das 0h de domingo.
Para a professora catedrática, o segredo para a nova fase, em que os estabelecimentos comerciais vão começar a reabrir e a possibilidade de circulação vai ser alargada pouco a pouco, reside na capacidade de a população adoptar um “comportamento colectivo”.
“O sucesso destas medidas está dependente de as encararmos não como um comportamento individual, mas antes como um comportamento colectivo. Temos de perceber que se todos nós fizermos o que nos apetece o resultado não vai ser bom. Por isso, devemos permanecer em casa grande parte do tempo e adoptar uma série de comportamentos novos quando saímos, não porque estejamos com medo, mas por respeito para com os outros”, diz a especialista em entrevista à Lusa.
Luísa Pedroso Lima adverte que o uso de máscara pode ser determinante para viver o período de calamidade e avisa que a forma como a encaramos pode determinar o sucesso desta fase.
“A máscara não pode ser considerada um acto de vulnerabilidade ou fraqueza. Pelo contrário, deve ser um símbolo de força. Temos de olhar para estes comportamentos de prevenção como de responsabilidade colectiva. Essa é a chave do sucesso”, frisa.
Custos para a saúde mental “vão chegar”
Confiante de que os portugueses vão colocar o interesse colectivo à frente do individual, a especialista em psicologia social dá como exemplo a forma como os cidadãos, numa primeira fase, cumpriram com as medidas de quarentena decretadas pelo Governo, mas alerta que “mudar hábitos nunca é fácil”, apesar de o país o ter feito de forma “brilhante”.
Também por isso, acredita a presidente do Conselho Científico do ISCTE, os custos para a saúde mental “vão chegar, mais cedo ou mais tarde” e admite mesmo que é possível que se desenvolvam algumas fobias.
“É possível haver novos medos, nomeadamente medo de outras pessoas e da proximidade física. Já vemos sinais disso”, salienta Luísa Pedroso de Lima, que avança que apesar de “ser um perigo desta situação”, esse medo só se supera com o sentimento de controlo da situação.
“Sentimos medo quando não controlamos uma determinada situação. Quando temos armas para controlar, esse medo pode ser gerido. Nesse sentido, máscaras, luvas e gel são as ferramentas de que precisamos para controlar esse medo e gerir esta nova normalidade”, vinca.
“Vamos ser capazes de levar uma vida próxima da que tínhamos antes”
Olhando para as implicações sociais desta pandemia a longo prazo, a especialista considera que, apesar das grandes mudanças a que fomos obrigados, rapidamente se voltará ao “normal” quando for descoberta uma vacina para prevenir a infecção.
“Temos uma enorme capacidade de adaptação e criatividade, por isso creio que muito rapidamente vamos readquirir a nossa sociabilidade”, entende a psicóloga, que cita estudos sobre o terramoto de 1755 ou a gripe pneumónica para atestar que as regras de convívio social se readquirem rapidamente e com poucas diferenças face ao que se verificava antes das calamidades.
“Vamos ser capazes de levar uma vida próxima da que tínhamos antes. Não será igual, mas também esperemos que fiquem novos hábitos, como lavar as mãos, pois hoje caiu definitivamente a ideia de que vivemos num mundo asséptico”, termina.