Renato Júnior: “As Mulheres Não Choram é uma metáfora. Porque as mulheres são o sexo forte”

Músico e produtor, o ex-UHF Renato Júnior gravou um disco com 16 cantoras, de Simone a Rita Redshoes.

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Renato Júnior durante as gravações DR

Músico, compositor, produtor e autor de bandas sonoras, com uma longa lista de participações em projectos musicais (integrou os UHF nos anos 1990), Renato Júnior lançou um disco com 16 cantoras acompanhadas por ele ao piano. Chamou-lhe As Mulheres Não Choram, a partir da velha (e enganadora) expressão “os homens não choram” para homenagear a força e a capacidade das mulheres. “O título do disco é uma metáfora”, diz Renato Júnior ao PÚBLICO. “Porque as mulheres são na realidade o sexo forte.”

Com letras de Tiago Torres da Silva (sete), do próprio Renato Júnior (cinco, além de um instrumental; e é dele a autoria de todas as músicas), de Marina Ferraz (duas) e de uma canção feita a partir de poemas de Sophia de Mello Breyner (Ausência), o disco abre com Vou, por Rita Redshoes, e continua com Ana Bacalhau (O dia que aí vem), Lúcia Moniz (Queria), Maria João, Shout & Biru (Ausência), Viviane (Goute a goute), Soraia Tavares (Para lá da pele), Katia Guerreiro (Quando morre o amor), Patrícia Antunes & Patrícia Silveira (Paixões proibidas), Mili Vizcaíno (La noche de ayer), Joana Amendoeira (Revólver sem balas), Simone de Oliveira & Shout (Mais canções de amor), Cristiana Águas (A transbordar), Kiara Timas (O meu mundo (és tu)), Sofia Escobar (A vida que eu quiser), Luanda Cozetti (Canto a saudade) e, a finalizar, um instrumental, só com Renato Júnior ao piano, intitulado Silêncio de um olhar.

“À medida que ia escrevendo as canções deste disco, ia pensando em vozes que as podiam interpretar. Quando cheguei a mais de meio, percebi que só estava a escolher mulheres. E o conceito desvendou-se assim.” O título veio depois, quando se deu conta de que estava a seleccionar vozes de mulheres para 15 canções. O nome de Simone de Oliveira, por exemplo, surgiu quando a RTP o convidou para participar como compositor no Festival da Canção e ele a desafiou. “Ela disse-me: faz uma canção de que eu goste, e eu vou. Desafiei o Tiago Torres da Silva, e acabou por aparecer aí uma parceria muito interessante. Foi daí que nasceu depois o espectáculo Simone, o Musical. E a canção que a Simone canta no disco é um dos originais do musical que adaptei para ela gravar, porque achei que fazia sentido.”

O caso de Sophia é outro: “Eu tinha pensado noutra canção para a Maria João. Mas entretanto lembrámo-nos de fazer, para apresentar no Centro Cultural de Belém, uma homenagem à Sophia com a João. E aquilo correu de tal maneira bem que acabámos por gravá-la. E foi giro juntar essas influências todas: hip-hop, o jazz, os Shout e um spoken word no final.”

Tiago Torres da Silva escreveu ainda uma canção em francês para a voz de Viviane e outra em castelhano, sem saber que viria a ser gravada por Mili Vizcaíno. As outras escreveu-as antes de Renato Júnior fazer a música. Renato também escreveu letras, embora não se considere letrista. Um exemplo é Queria: “Atrevi-me a colocar aqui algumas palavras, mas tenho consciência de que não é a minha praia, sou essencialmente um compositor. Ainda assim, quando começo a escrever, letra e música saem-me mais um menos em simultâneo.”

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A capa do disco, editado pela Sony

E teve ainda outro “atrevimento”: “Em Canto a saudade, com Luanda Cozetti, toco também o meu instrumento de conservatório base, que é o clarinete. Há uns 15, 20 anos que eu não pegava num clarinete. E apeteceu-me meter ali um solo, muito a medo.”

A participação das cantoras moldou positivamente, diz Renato, o resultado final. “Elas emprestaram o seu ADN, o que é muito bom. Dentro da minha homogeneidade, criei uma heterogeneidade que tentei que fosse ao encontro delas.” O que se enquadra no seu trabalho: “Sou basicamente um escritor e um produtor pop. Mas acho que o alternativo de hoje é o pop de amanhã. Se tivermos uma boa melodia e se timbricamente vestirmos a canção com um fato que vá um pouco mais além, para que o público se vá habituando, vamo-nos aproximando de algo que acaba de ser menos estranho e que funciona.”

O disco ia ter apresentações ao vivo, interrompidas pela covid-19: “Já tinha quatro concertos marcados. Íamos começar dia 16 de Abril, tínhamos mais dois em Agosto e outro no final do ano. E queria fazer pelo menos um ou dois com as cantoras todas. Espero ainda conseguir fazê-lo no final de 2020. Vamos ver o que acontece.”

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