Quatro novos casos positivos fazem Governo dos Açores manter cordão sanitário em Nordeste
O Governo Regional tinha anunciado na quinta-feira o levantamento das cercas sanitárias em São Miguel. Agora, com quatro novos casos no concelho do Nordeste, foi determinada a manutenção da cerca naquele concelho que regista dez das 14 mortes nos Açores.
Quando Vasco Cordeiro, presidente do Governo dos Açores, anunciou na sexta-feira o levantamento das restrições impostas para conter a covid-19, que incluía o fim das cercas sanitárias em todos os concelhos de São Miguel na próxima segunda-feira, fez questão de ressalvar a “situação específica” do Nordeste, o concelho com mais casos positivos na região: “Se porventura se vier a registar algum caso positivo poderá, eventualmente, ser necessário, em relação ao concelho do Nordeste, manter ainda durante mais algum tempo a questão das cercas sanitárias”.
Poucas horas depois, e após sete dias sem qualquer novo caso positivo em toda a região, são detectados quatro novos casos de covid-19 nos Açores. Todos em Nordeste, todos relacionados com o lar de idosos daquele concelho: três indivíduos do sexo feminino com idades entre os 85 e os 87 anos; e um do sexo masculino de 92 anos – todos utentes da estrutura residencial para idosos da Santa Casa da Misericórdia do Nordeste.
Perante isso, o Governo dos Açores anunciou de seguida: “Prorrogar, relativamente apenas ao concelho do Nordeste, a determinação de cercas sanitárias das 00h do dia 4 de Maio até às 00h do dia 18 de Maio”. Ou seja, aquele concelho de São Miguel, que regista 40 dos 80 casos positivos de covid-19 nos Açores, irá continuar isolado até – pelo menos – 18 de Maio.
“Eu não estava à espera de que aparecessem mais casos, sinceramente eu não estava”, começou por dizer ao PÚBLICO António Miguel Soares, presidente da Câmara Municipal do Nordeste. Tal como Vasco Cordeiro tinha revelado, o Governo Regional tinha um “acordo” com a câmara daquele concelho. Por isso, quando os casos positivos foram anunciados nesta sexta-feira, o autarca da vila com cerca de cinco mil habitantes já esperava a manutenção do cordão sanitário: “a decisão foi articulada com a Autoridade de Saúde e com o senhor presidente do governo. Com esses quatros casos, já estávamos a aguardar a decisão”.
A história do lar do Nordeste começou com uma utente que foi infectada no Hospital Divino Espírito Santo, em Ponta Delgada, onde esteve internada. A infecção foi conhecida a 7 de Abril e deu-se por contactos com profissionais de saúde que faziam parte de uma cadeia de transmissão com origem no concelho da Povoação. Menos de um mês depois, aquele concelho a nordeste da maior ilha açoriana, regista dez das 14 mortes de covid-19 nos Açores. Eram todos utentes do lar.
No lar, estão ainda 18 idosos que tinham tido teste negativo à covid-19. A equipa de funcionários que estava a prestar auxílio aos utentes vai entrar agora de quarentena. Os profissionais vão todos ficar no concelho: uns em casa, outros em alojamentos locais cedidos pela autarquia. Para António Miguel Soares, este é mais um motivo para manter as cercas sanitárias no concelho: “Ninguém mais do que eu gostaria que se voltasse à normalidade, mas antes prevenir do que remediar. O acordo foi manter o cordão mais 15 dias”, assinalou o autarca, justificando a sua opinião com os “vários testes que dão negativo e depois dão positivo ou inconclusivo”. Precisamente pelo período de quarentena ser de 14 dias, o presidente da Câmara não tem grande esperança de que a cerca sanitária seja levantada antes do dia 18. “Ainda se pensou inicialmente ter a cerca apenas por mais oito dias, mas só que, como o período de quarentena são 14, julgo que será mesmo para manter os 15 dias”.
Apesar de ser o concelho com mais casos dos Açores, a cadeia de transmissão do Nordeste está confinada ao lar de idosos e aos profissionais daquela instituição. Há uma semana, o delegado de saúde do concelho dizia ao PÚBLICO que a “primeira vitória” foi ter contido a “transmissão aos colaboradores do lar” – evitando a transmissão em toda a comunidade. Teves Carreiro referiu, também, que os “todos os idosos” e “todos os profissionais de saúde” estavam a ser testados a cada “cinco a sete dias”. No total, mais de 500 testes já foram feitos na operação que procurou conter o surto naquele concelho.
Por isso, esta sexta-feira, na conferência de imprensa diária da Autoridade de Saúde Regional, Tiago Lopes, o responsável por aquela entidade, referiu o carácter preventivo da medida. “É uma medida preventiva, pese embora a cadeia de transmissão não tenha tido repercussão ao nível comunitário”, referiu, destacando, contudo, que existem casos positivos “no interior da estrutura residencial”, tal como a existência de “alguns funcionários” que vão entrar de quarentena. “Por precaução, foi decidida a manutenção dessa cerca”, concluiu.
“Uns estão aborrecidos, outros pensavam que isso já estava ultrapassado, outros compreendem, mas é sempre complicado”, explicou ao PÚBLICO o autarca do Nordeste, quando questionado pelo sentimento da população face a esta decisão. Numa altura em que o arquipélago vai iniciar o desconfinamento, que vai ser diferente de ilha para ilha, no Nordeste as restrições vão continuar.
No total, desde o início da pandemia, os Açores já registaram 142 casos. Desses, 48 estão recuperados e 14 morreram. Dos 80 infectados activos na região, 61 estão em São Miguel, dois na Terceira, cinco na Graciosa, dois em São Jorge, cinco no Pico e cinco no Faial. Corvo, Flores e Santa Maria mantiveram-se até ao momento imunes ao novo coronavírus.