Portugueses criam tecnologia capaz de proteger trabalhadores
Fábrica de Famalicão lança quiosque que verifica máscaras e temperaturas. Centro Fraunhofer prepara sensores para avaliar bem-estar físico e mental na indústria.
A Famasete é uma empresa de Famalicão que fabrica tecnologia interactiva há 25 anos. Mas a pandemia de covid-19 tornou os ecrãs tácteis objectos proibidos. Em duas semanas, a empresa redesenhou o produto e lançou o Hygistation, um quiosque multifunções que em breve poderá estar à entrada de fábricas, em lojas ou zonas sociais.
O Hygistation inclui dispensador automático de desinfectante para as mãos, sistema de medição de temperatura corporal, a 50 centímetros de distância, assegura ainda o reconhecimento facial (com base de dados de 30 mil ID e identificação de estranhos) e também valida a utilização de máscara. Além disso, permite adicionar um sistema de gestão de filas de espera.
Inês Barbosa, responsável de comunicação da Famasete, salienta que os primeiros interessados surgiram com rapidez. “Já temos encomendas de todo o tipo de empresas”, garante a porta-voz, em declarações ao PÚBLICO.
Esta tecnologia made in Portugal tem o selo da Wingsys, uma marca criada pela Famasete que, no último mês de Janeiro apresentou em Londres o primeiro ecrã interactivo de marca portuguesa.
Semanas depois, eclodiu a pandemia e tudo o que era táctil e público passou a ser desaconselhado. Em 15 dias, a empresa criou um quiosque que dispensa toques e recorre apenas a sensores e câmaras, descreve Inês Barbosa, a tempo do desconfinamento.
“A nova normalidade da vida em sociedade passará por fortes medidas de higiene e de prevenção, e é nesse contexto que entram os novos quiosque da Wingsys”.
No centro de investigação Fraunhofer Portugal AICOS, há outro projecto que, não tendo nascido por causa da pandemia, dá uma antevisão da indústria do futuro e inclui soluções que poderão vir a ser utilizadas para proteger a saúde de trabalhadores no chão de fábrica.
Lançado em Março, o projecto Operator visa criar um sistema de sensores que, aplicado ao operário fabril, pretende “assegurar o bem-estar físico e mental do trabalhador da indústria”.
“Estamos a trabalhar na área da saúde no trabalho há muito tempo e de repente está toda a gente a falar sobre isso e a pensar sobre como podemos ajudar”, frisa. O projecto custa 1,9 milhões de euros e tem a duração de três anos. Estando fora do contexto da pandemia, poderá contudo dar azo a soluções que sejam aplicáveis nesse tipo de situações.
Ana Barros, responsável pelo departamento de Human-Centred Design deste centro, explica que o ponto de partida foi uma tese de mestrado em engenharia biomédica.
Essa investigação debruçou-se sobre o elemento humano nas fábricas, a ergonomia, as doenças profissionais, físicas e mentais. A partir daí, nasceu este projecto de transformação digital, que sai dos cânones tradicionais.
Habitualmente, o tema da indústria 4.0 centra-se na produtividade e eficiência mas numa lógica de processos e operações. Muitas empresas portuguesas estão nesse pelotão que desenvolve soluções para logística e inovação produtiva.
Porém, neste caso, a solução está centrada no elemento humano, salienta Ana Barros. O que é menos frequente.
Autoeuropa (Palmela) e NST Apparel (Paredes) são dois parceiros industriais que se associaram à iniciativa. E que mais à frente serão os primeiros a experimentar os sensores para recolher informação anonimizada e agregada sobre postura, tempos, movimentos ou temperaturas, e até feedback sobre saúde mental, para se perceber se a saúde do operário está salvaguardada. A privacidade está garantida porque, segundo Ana Barros, os dados pertencem ao trabalhador e ser-lhe-ão entregues a ele.