Um terço dos profissionais de saúde falha na autovigilância pedida pela DGS
Médicos e demais trabalhadores da saúde revelam também, de forma global, problemas de ansiedade, fadiga e dores de costas. E dormem menos do que deveriam.
É reduzida a diminuição no número de profissionais de saúde que crêem não estar a ter, em tempos de pandemia, protecção e vigilância da sua saúde nos locais de trabalho. De 38,4%, na primeira análise – divulgada há duas semanas –, o valor desceu apenas para 36,6% na segunda – divulgada nesta quarta-feira.
O segundo relatório da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) continua a revelar estas limitações das instituições no acompanhamento aos médicos e demais trabalhadores, mas não só: os próprios profissionais – 33,4% dos cerca de seis mil inquiridos – assumem estar a falhar na automonitorização recomendada pela Direcção-Geral da Saúde (DGS), que implica a medição da temperatura e a confirmação da ausência de sintomas da covid-19. Este valor, um terço dos inquiridos, não regista evolução relativamente ao do primeiro inquérito.
Há, por outro lado, um dado salutar neste Barómetro covid-19: a disponibilização de equipamentos de protecção individual (EPI) é considerada pelos profissionais de saúde melhor (31,7%) ou mesmo muito melhor (40,7%) do que nas semanas anteriores. Na opinião da grande maioria dos respondentes (80,2%) os EPI são adequados.
Ainda relativamente ao último relatório, regista-se que a maioria dos testes a profissionais de saúde foram feitos dentro das 72 horas após a suspeição, um aumento relativamente aos valores anteriores.
Tendência semelhante verifica-se nos profissionais de saúde em áreas de covid-19 sujeitos a vigilância activa. De apenas 40%, no primeiro inquérito, passaram a 56,6%, neste segundo questionário – um levantamento que, para Florentino Serranheira, um dos investigadores, “indicia uma efectiva gestão do risco”.
Os dados referem-se ao segundo questionário dirigido a profissionais de saúde, que recolheu, entre os dias 16 e 24 de Abril, cerca de duas mil respostas, totalizando, agora, um universo total de um pouco mais de seis mil questionários respondidos. As respostas são, maioritariamente, de profissionais do sector público (92,1%).
Fadiga, ansiedade e pouco descanso
Se a gestão dos perigos directos da covid-19 mostra altos e baixos, mas com uma melhoria global, os efeitos colaterais do trabalho na linha da frente são, para a ENSP, um prisma preocupante.
Sob o mote “Riscos para os Profissionais de Saúde muito para além do vírus”, os autores do Barómetro covid-19 sublinham que “ansiedade, horas de sono insuficientes, fadiga e dores nas costas têm influência na saúde e no desempenho da actividade dos profissionais de saúde”. E atestam-no estatisticamente.
“Quase três quartos dos respondentes apresentam níveis de ansiedade elevados ou muito elevados (…) e a fadiga, que piorou para quase 90% dos profissionais de saúde desde o último inquérito, pode ter repercussões na sua saúde e desempenho profissional. De facto, quase quatro em cada cinco profissionais de saúde (78,7%) consideram o seu nível de fadiga (física) muito agravado em relação à semana anterior e 44,8% referem ter menos de seis horas diárias de sono com qualidade”, pode ler-se.
Em matéria de horas laborais, cerca de 15% dos que responderam e trabalharam em áreas dedicadas aos doentes de covid-19 estiveram ao serviço mais de 12 horas diárias e mais de um terço (34,9%) entre as oito e as 12 horas. À noite, a maioria dos que responderam (78,2%) trabalharam menos de nove horas.
Quase metade abdica do exercício físico
Por fim, destaque para as limitações físicas nos profissionais, sobretudo associadas a dores nas costas, que indicam, por um lado, dificuldades nas funções diárias e, por outro, menor predisposição para o exercício físico.
Quase 45% dos profissionais de saúde não praticaram exercício físico na última semana e apenas 2% referiram fazer exercício todos os dias.
“Tal pode, eventualmente, estar relacionado com o elevado número de alusões à presença de dores musculoesqueléticas (ou desconforto) a nível da coluna vertebral, que não tinham anteriormente e que podem estar relacionadas, para além das exigências do trabalho, por exemplo com à sobrecarga causada pelos equipamentos de protecção individual que usam”, explica o investigador.