Meio mês de confinamento chegou para PIB dos EUA cair 4,8% no primeiro trimestre

Resultado do primeiro trimestre mostra que a maior economia do planeta deve estar já a passar por uma recessão técnica, com quedas acentuadas no consumo e investimento

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LUSA/SARAH SILBIGER / POOL

Não foram precisas mais do que duas semanas de confinamento no final de Março para fazer a economia norte-americana registar uma contracção de 4,8% no primeiro trimestre do ano, o pior resultado desde a crise financeira de 2008.

Superando as estimativas já pessimistas dos analistas (que em média apontavam para uma contracção de 4% no PIB), a maior economia do planeta mostrou o impacto muito acentuado que a pandemia do novo coronavírus pode ter na actividade durante este ano, sendo já um dado adquirido que os EUA se encontram neste momento em situação de recessão técnica, seja qual for a definição usada: dois trimestres consecutivos de contracção da economia, como é habitualmente usado na Europa, ou uma diminuição generalizada da actividade durante alguns meses, avaliada pelo instituto de investigação económica NBER.

“Se a economia caiu desta forma no primeiro trimestre, com menos de um mês de confinamento provocado pela pandemia na maioria dos Estados, imagine-se quanto é que poderá cair durante o segundo trimestre”, afirmou à Reuters um analista de um banco de investimentos norte-americano, ilustrando o sentimento geral de que os meses seguintes à contracção agora anunciada produzirão indicadores económicos ainda mais desfavoráveis.

Os principais contributos para a queda do PIB no primeiro trimestre do ano, de acordo com os dados publicados pelo Departamento do Comércio norte-americano, vieram do consumo privado, que caiu 7,6% – a maior descida registada neste indicador desde o final de 1980 –, e do investimento empresarial.

A contribuir positivamente para a variação do PIB estiveram as importações, que acompanharam a descida do consumo, e o consumo e o investimento públicos, à medida que estados e governo federal começaram a passar à prática medidas de combate à pandemia e de mitigação dos efeitos económicos negativos.

Para além dos números do PIB agora conhecidos, o indicador que de forma mais clara tem vindo a revelar a dimensão do colapso registado na actividade económica é o número de novos pedidos de subsídio de desemprego. Desde meados de Março, foram feitos 26,4 milhões de novos pedidos.

Numa tentativa de contrariar o impacto económico negativo da pandemia, Casa Branca e Congresso já aprovaram diversos pacotes de medidas que incluem, para além da concessão de crédito às empresas e da suavização dos critérios de habilitação ao subsídio de desemprego, a entrega de cheques aos cidadãos norte-americanos.

Os cheques estão a ser enviados de forma progressiva e o seu objectivo é evitar uma queda demasiado brusca do consumo, persistindo no entanto dúvidas se as famílias irão, nas actuais circunstâncias, ser capazes de transformar uma parte significativa do rendimento adicional em consumo.

Também a Reserva Federal norte-americana tem aplicado diversas medidas de estímulo e injecção de liquidez, que incluem a descida das taxas de juro de referência e o anúncio de compra de títulos de dívida, seja ela federal, dos estados, municipal ou empresarial. Esta quarta-feira, ao fim do dia, a Fed termina a reunião de dois dias onde estão a ser discutidas novas medidas de apoio à economia.

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