Galp diz que produção é rentável com barril a 20 dólares

O presidente da Galp assegurou esta segunda-feira que a produção da Galp continuará a gerar liquidez mesmo com o preço do barril de crude a 20 dólares.

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Carlos Gomes da Silva é o presidente executivo da Galp ric ricardo campos

Na conferência telefónica com analistas que se seguiu à divulgação das contas do primeiro trimestre, Carlos Gomes da Silva adiantou que ainda é cedo para avaliar os impactos da crise sanitária na actividade da petrolífera, mas que as análises realizadas pela empresa demonstram que a Galp continuará a conseguir recuperar os seus investimentos e a gerar liquidez mesmo com o barril de crude a 20 dólares.

Em Fevereiro, quando apresentou ao mercado a sua estratégia até 2022, a Galp prometeu focar-se em “projectos de elevado potencial, com o break-even [ponto de equilíbrio entre o valor da venda e o custo] médio do portefólio a manter-se nos 25 dólares” por barril.

Mesmo que a cotação do petróleo se mantenha na casa dos 2o dólares, a Galp assegura que o impacto sobre a sua capacidade de gerar liquidez a partir dos vários projectos será neutra. Uma cotação inferior já terá efeitos sobre a capacidade da empresa de libertar meios com a actividade.

Este patamar foi calculado tendo em conta vários cenários, mesmo os mais pessimistas, assegurou Gomes da Silva. “Estamos a preparar-nos para o pior e a esperar pelo melhor”, afirmou o gestor, lembrando que a empresa tem várias iniciativas de corte de custos em marcha, tal como foi anunciado ao mercado no início do mês.

Com redução de custos operacionais e de investimento – num valor entre 500 a 700 milhões de euros por ano, em 2020 e 2021 – a Galp terá “a resiliência e a flexibilidade que serão críticas” para ultrapassar os efeitos da pandemia, afirmou o gestor. Neste momento, a empresa “está a rever os números” e promete divulgar em Junho, ou Julho, o que se pode esperar para os resultados no resto do ano.

Recordando que a petrolífera tinha planeado a sua actividade com cotações do Brent a rondar os 65 dólares por barril, Gomes da Silva admitiu que “a pressão sobre os preços vai manter-se nos próximos meses”, com a dimensão de stocks em níveis recorde. Tudo dependerá de como irão as economias reagir e a procura comportar-se.

Ainda há espaço para mais quedas “antes da estabilização”, assumiu o gestor. Segundo a Galp, o consenso do mercado é de que os preços ficarão abaixo dos 40 dólares nos próximos trimestres.

Esta segunda-feira, o barril de crude do Mar do Norte continuava a perder terreno, a rondar os 20 dólares.

O administrador da Galp com o pelouro da actividade petrolífera, Tore E. Kristiansen, assegurou que a empresa não sofreu qualquer perturbação ao nível da produção, tendo, no entanto, adiado trabalhos de manutenção não essenciais.

Questionado sobre os critérios usados para os testes de stress à actividade da Galp neste contexto de pandemia, o presidente da empresa assegurou que foram tidos em conta cenários com margens de refinação perto de zero (o valor que se consegue extrair de cada barril de crude processado) e quedas de vendas acima de 50%.

Considerando o mês de Abril, o cenário a que se assiste na Península Ibérica é o de uma quebra de 50% nas vendas de gasóleo e de mais de 60% na gasolina.

“O mais desafiante” e “onde as dificuldades de recuperação são maiores” é mesmo o jet para aviação, com um corte de vendas acima de 90%.

As exportações de gasolina para os Estados Unidos decorreram com normalidade no primeiro trimestre, embora a procura tenha caído cerca de 50% este mês. Desde o início de Abril que a fábrica de combustíveis em Leça da Palmeira está encerrada, e na próxima semana será a vez de encerrar a produção em Sines, que só deverá reabrir em Junho.

Além do corte de custos e adiamento de investimentos, a venda de activos continua a ser uma oportunidade em aberto – o negócio regulado de distribuição de gás natural continua a ser um dos principais candidatos, mas sem data prevista. As empresas do grupo Galp dominam o negócio de distribuição de gás natural em Portugal, num negócio onde a japonesa Marubeni tem 22,5% do capital.

“Se o fizermos [a venda] será ao preço certo”, asseguro Carlos Gomes da Silva.

Assegurando que as ambições da Galp no negócio de renováveis “mantêm-se intactas”, Gomes da Silva adiantou que a empresa espera concluir a compra de parques solares em Espanha neste segundo trimestre, assim como encontrar um parceiro para esse negócio de energia renovável.

Quanto à definição da política de dividendos no futuro, o administrador financeiro da Galp, Filipe Silva, sublinhou que “é demasiado cedo” para dizer o que poderá suceder. A futura distribuição de dividendos dependerá das condições do mercado, da capacidade de geração de cash (o que por sua vez dependerá do valor das cotações do petróleo) e da necessidade de salvaguardar a posição financeira da empresa.

No primeiro trimestre, o lucro da Galp caiu 72%, para 29 milhões de euros, motivada essencialmente por uma desvalorização do inventário em 278 milhões de euros devido à queda das cotações.

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