Morreu Per Olov Enquist, o escritor que parecia ter nascido para a fama
Foi um dos mais importantes, premiados e traduzidos escritores e dramaturgos nórdicos, tendo o seu nome sido referido mais do que uma vez para o prémio Nobel.
O escritor e dramaturgo sueco Per Olov Enquist morreu no sábado, aos 85 anos, confirmou a família ao diário Dagens Nyheter. Autor de cerca de 20 romances e ensaios, nove peças de teatro e cinco guiões de cinema, como era conhecido como P.O. Enquist tinha um livro traduzido em Portugal : A Visita do Médico Real, publicado em 2011 pela editora Ahab e que lhe valeu vários prémios entre os quais o Independent Fiction Prize.
Tal como escrevia o crítico literário José Riço Direitinho, no Ípsilon em 2012, Per Olov Enquist parecia ter nascido para a fama. Na década de 1950 foi um dos maiores saltadores em altura escandinavos, chegando a ser recordista nacional sueco com a marca de 1,97 metros. Só depois de ter abandonado o desporto, é que se dedicou à escrita literária e ao teatro, e também aí se tornou num dos mais importantes, premiados e traduzidos escritores e dramaturgos nórdicos, tendo o seu nome sido referido mais do que uma vez para o prémio Nobel.
Nascido em Hjoggböle, 1934, Per Olov Enquist estreou-se em 1961 com o romance Kristallögat (O Olho de Cristal), a que se seguiu Magnetisörens femte vinter (O Quinto Inverno do Magnetizador, 1964). Com Legionärerna (Os Legionários, 1968), obteve fama fora da Suécia e ganhou o Prémio de Literatura do Conselho Nórdico.
A estreia como dramaturgo foi em 1975, com Tribadernas Natt (A Noite das Tríbades), outra obra com a qual ultrapassou as fronteiras do seu país e que, em Portugal, foi encenada duas vezes por Fernanda Lapa, 1985 e 2013. Após escrever um único romance na década seguinte, Nedstörtad ängel (O Anjo Caído), regressou ao género em 1992, com Kaptens Nemos bibliotek (A Biblioteca do Capitão Nemo) e com o já citado Livläkarens Besök (A Visita do Médico Real, 1999).
Nessa entrevista que deu ao Ípsilon, o escritor sueco explicava a José Riço Direitinho que depois de ter passado mais de 20 anos a debater-se com um problema de alcoolismo, numa manhã de Fevereiro de 1991, decidiu que não tornaria a beber e que também não tornaria a escrever romances: a partir de então o seu talento seria orientado apenas para a escrita teatral. "Passei demasiados anos a tentar perceber as razões pelas quais estava dependente do álcool, e acho que nunca as encontrei. Quanto à escrita de romances, não consegui ser tão forte. Fui derrotado”, dizia na altura, em que precisamente estava a lançar este seu um romance histórico, A Visita do Médico Real, onde faz uma incursão no século XVIII e nos começos da Revolução Iluminista nos países nórdicos.
Com esta última obra ganhou o primeiro dos seus prémios Augusto, o galardão mais importante da literatura sueca, que voltou a obter com o livro de memórias Ett Annat Liv (Outra Vida, 2008), em que conta a sua batalha pessoal contra o alcoolismo. O último livro, Liknelseboken (O Livro das Parábolas, 2013) é uma continuação da autobiografia de um autor considerado um dos ícones da cultura sueca contemporânea.
“Foi um autor muito prolífico, activo no debate social e um dos escritores mais importantes”, declarou este domingo a jornalista e crítica Eva Ekselius, autora de uma tese sobre a obra de Enquist.
Além da produção estritamente literária, Enquist escreveu guiões para vários filmes, entre os quais Pelle, O Conquistador, do dinamarquês Bille August, que ganhou o Óscar de melhor filme estrangeiro em 1987.