Dono de hostel na Morais Soares: “Não é a miséria que estão a dizer”
Sócio do estabelecimento diz que “foi o Conselho Português para os Refugiados” a contactá-lo e vai mostrar todos os documentos.
Um dos donos do hostel de Lisboa que foi evacuado no domingo diz que as condições do estabelecimento não são tão más quanto se tem dito e promete mostrar todos os documentos sobre o acolhimento de refugiados em breve.
“Não é um hotel de cinco estrelas, mas também não é essa miséria como estão para aí a dizer”, assegura Dolorito Borges, um dos sócios do hostel Aykibom, onde desde Outubro estavam alojados cerca de 170 requerentes de asilo. Várias entidades, como a Câmara de Lisboa e a junta de Arroios, manifestaram-se surpreendidas com a situação e criticaram as condições em que as pessoas viviam. Ao PÚBLICO, o empresário garante que “foi o Conselho Português para os Refugiados (CPR)” a contactá-lo e defende-se: “Temos um negócio, recebemos uma proposta e aceitámos.”
Apesar de ter capacidade oficial para 210 pessoas, o estabelecimento “nunca teve essa quantidade de refugiados”, assevera Borges, mas alguns equipamentos foram-se degradando devido a uma utilização intensiva e, por vezes, desadequada. Afirma, ainda assim, que tudo está dentro da legalidade e que mesmo os problemas identificados em duas vistorias da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), em 2018, foram rapidamente resolvidos.
O sócio, que para já prefere não se alongar em comentários, diz que nos próximos dias vai mostrar à comunicação social os contratos com o CPR, as vistorias da ASAE e outros documentos sobre o hostel. A directora do CPR, Mónica Farinha, disse esta quarta-feira ao PÚBLICO que as condições onde as pessoas estão alojadas “não são as ideais, mas não são desumanas” e que procurou “os melhores locais e mais adequados”.
O único morador permanente do prédio em que está o estabelecimento hoteleiro comenta, por seu turno, que os problemas de salubridade e segurança no imóvel já se arrastam há muito tempo. “Isto começou a abandalhar, não havia ninguém que tomasse conta das coisas”, relata. Para este residente, que habita com uma mãe idosa e a filha criança, “a culpa maior é do Estado” por “abandonar aqui as pessoas”.
Além de requerentes de asilo, este vizinho garante que o prédio tem sido alojamento provisório para pessoas sem-abrigo na última década, embora não com a actual gerência do hostel, e que as condições físicas das casas se têm deteriorado continuamente. “A minha mãe dá aulas de piano e há mais de um ano que não consegue porque as pessoas têm medo de entrar cá dentro”, acrescenta.