Sem turistas e sem poluição sonora, as aves aventuram-se em Paris
Paris, como muitas cidades de todo o mundo, esvaziou-se dos seus ruídos e das suas multidões. “Mas a Humanidade voltará brutalmente ao seu território” e “os animais vão ter um choque.”
Alguns patos descansam no pedestal de uma estátua em frente ao Musée d'Orsay, em Paris, depois de terem ousado deixar o seu habitat natural. Chegar lá desde o rio Sena envolve atravessar uma auto-estrada de quatro faixas, algo que por estes dias já não é considerado um desafio de alto risco. A circulação automóvel nas vias da capital francesa é escassa devido aos bloqueios em vigor e isso, segundo os ornitólogos, incentivou as aves a aventurarem-se em novos territórios.
“Estão a transformar-se em exploradoras”, comentou à Reuters Allain Bougrain-Dubourg, presidente da Liga Francesa para a Proteçcão de Aves. “As aves são curiosas por natureza. Neste momento perguntam-se se vão encontrar comida e tranquilidade.”
As restrições do governo francês ao movimento de pessoas e meios de transporte, impostas para tentar conter um dos surtos mais mortais do mundo do vírus, estão agora na sexta semana.
Paris esvaziou-se dos seus ruídos e das suas multidões. Está bucólico, quase sereno, aproveitando a chegada da Primavera, das flores e dos insectos. O sol brilha, as roupas são de Verão e as máscaras cobrem muitos rostos. Os museus e os jardins públicos têm os portões fechados. As cortinas dos restaurantes estão corridas. Os grupos turistas terão que esperar.
As estátuas mantêm-se majestosas. Agora sós — na companhia das aves. Os monumentos estão ainda mais visíveis. Os relvados intactos. Ninguém os pisa. Não há selfies. Quase nenhum barulho de motor de barcos no Sena, onde a água quase não ondula. Muitos cantos de pássaros.
Em Paris, a maioria das pessoas fica em casa, quase todas as lojas estão fechadas e as estradas, geralmente obstruídas pelo trânsito, estão silenciosas.
O ambiente — especialmente o declínio na poluição sonora que foi medido em algumas das ruas mais movimentadas de Paris — é mais acolhedor para as aves. Os pássaros não precisam de competir com as buzinadelas do tráfego.
O fenómeno também foi notado no Mont Saint-Michel, normalmente lotada de turistas. “Todos os passarinhos que antes estavam escondidos estão a aparecer”, disse a irmã Eve-Marie, freira das Fraternidades Monásticas de Jerusalém, que vive na ilhota. “Têm menos medo porque há menos pessoas”.
“Um certo número de animais ocupou espaços sem grandes preocupações. Mas a humanidade voltará brutalmente ao seu território”, disse Bougrain-Dubourg. “Os animais vão ter um choque.”