Preço do petróleo em terreno positivo mas a níveis historicamente baixos

Depois do “pior dia da história” no mercado petrolífero, em que o barril chegou a estar a 40 dólares negativos, a cotação subiu mas para para valores baixos.

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A OPEP+ chegou a acordo para cortar a produção mundial em 9,7 milhões de barris Reuters/Daniel Becerril

Depois de um dia em que registou a maior perda diária da história, com os investidores a pagarem para vender um barril, o preço do petróleo transaccionado no mercado norte-americano continua a valores historicamente baixos, embora já não esteja em valores negativos.

Cerca das 17h45 de Lisboa, a cotação do petróleo West Texas Intermediate (WTI) referente aos contratos para entrega em Maio — cuja negociação acabava nesta terça-feira — estava a 5,49 dólares por barril, depois de na véspera ter fechado a um valor negativo de 37,63 dólares.

O dia de segunda-feira, que a empresa de análise de mercado Xtb descreve como “pior dia da história do mercado de petróleo”, foi de queda vertiginosa. A cotação chegou a estar a um valor negativo de 40,32 dólares e, como a queda foi tão acentuada — superior a 300% —, a recuperação que se regista entretanto representa uma variação superior a 100%.

Como há muito petróleo no mercado, explica a análise da Xtb, os produtores “preferem armazená-lo e vendê-lo mais tarde por preços mais altos” em vez de o fazerem agora porque “o petróleo bruto nessa quantidade simplesmente não é mais necessário no mercado" neste momento.

Enquanto os contratos futuros de WTI referentes a Maio chegaram a negociar em valores negativos e depois passaram a terreno positivo, os contratos futuros para entrega em Junho mantêm-se com a cotação positiva, nos 11,73 dólares por barril.

Em Londres, onde se negoceiam os contratos com referência para o mercado português, os contratos futuros de Brent para entrega em Junho estão a 18,89 dólares por barril, o que significa uma queda na ordem dos 26%.

O dia de segunda-feira fora uma verdadeira montanha russa. O prazo de negociação dos contratos futuros de Maio estava a chegar ao fim. O mercado norte-americano está com excesso de stocks e, com a queda no consumo devido à travagem na economia associada à crise de propagação do novo coronavírus, em paralelo com uma produção de petróleo elevada, o problema agudizou-se. E como muitos investidores estão com dificuldade em encontrar um armazém onde possam guardar os barris de petróleo desses contratos de Maio, ou estão a preferir vendê-los no mercado, a trajectória de queda acentuou-se nas últimas horas para valores inéditos.

E isso aconteceu mesmo depois de a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) e os principais aliados, como a Rússia, terem chegado a acordo na passada semana para cortarem a produção mundial em 9,7 milhões de barris por dia.

“Nunca o mercado de petróleo tinha enfrentado uma situação sequer semelhante. Embora não seja inédito um activo descer abaixo de zero, tais eventos são muito raros”, refere uma análise de mercado da Xtb, explicando que os “vendedores estiveram dispostos a pagar aos compradores para se desfazerem dos contratos (e do petróleo)” no caso dos contratos de futuros do petróleo WTI relativos a 20 de Maio, uma “pequena parte do mercado” que estava em negociação.

Sinal de que essa decisão não chegou para travar um movimento brusco foi o que se passou na segunda-feira nos mercados internacionais. Ao início da tarde em Portugal, o preço do barril de petróleo cotado em Nova Iorque referente a Maio valia 12 dólares, mas, ao fim do dia, a queda já tinha sido tão grande que o preço estava em um dólar e, pouco depois, em terreno negativo.

À Reuters, Phil Flynn, analista da consultora Price Futures Group em Chicago, explicava que “as refinarias estão a trabalhar a níveis baixos porque ainda há a imposição de confinamento em muitos Estados [norte-americanos]”.

A previsão da Agência Internacional de Energia prevê que a procura de petróleo diminua 9,3 milhões de barris por dia em 2020.

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