Vídeos de invasões de aulas online voltam ao YouTube. PJ diz que sem queixas, não há crime
O autor dos vídeos diz que o que fez “foi comédia” e que há casos de invasões semelhantes no estrangeiro.
Este fim-de-semana a Polícia Judiciária identificou o autor de muitos dos vídeos de invasões de aulas virtuais em Portugal que começaram a circular no YouTube na semana passada. Aqueles vídeos foram removidos “por livre iniciativa” do utilizador responsável, mas já há outros a circular na rede social — alguns são cópias dos originais publicados por fãs do youtuber.
Conhecidos como “zoombombing” ou “zoom raid”, estes vídeos têm por objectivo destabilizar as aulas online, ridicularizando os participantes, expulsando professores ou através da partilha de conteúdo obsceno.
“É impossível garantir que todos os vídeos foram removidos, ou impedir novos de surgirem”, diz ao PÚBLICO, Carlos Cabreiro director da Unidade Nacional de Combate ao Cibercrime e à Criminalidade Tecnológica (UNC3T) da PJ. “Embora a publicação destes vídeos por outras pessoas seja uma prática censurável, não há impacto penal. Para todos os efeitos, sem queixas destes vídeos, não há crime.”
Frequentemente os ataques resultam de alunos que partilham deliberadamente as credenciais de acesso às aulas nas redes sociais para que sejam invadidas, e de sessões mal configuradas pelos professores.
“Não existiu qualquer acesso ilegítimo às aulas”, avança Carlos Cabreiro, que diz que a unidade de cibercrime da PJ procedeu à identificação do responsável, um homem de 20 anos com mais do que uma conta no YouTube. “Estamos perante possíveis casos de injúria e difamação, mas sexta-feira, quando estes casos começaram a ser reportados pela comunicação social, ainda não havia queixas dos visados”, acrescentou o director da UNC3T.
Para uma aula correr bem, é essencial mudar algumas das definições nas aplicações de videoconferência como desactivar os microfones e câmaras dos alunos e “trancar a porta” (impedindo indivíduos mal-intencionados de entrar). O fenómeno repete-se noutros países: nos Estados Unidos, o FBI alertou sobre o fenómeno de zoombombing num comunicado publicado no final de Março, onde se reforça a importância de “passos para mitigar o risco de invasões” depois de a agência ter recebido “múltiplos relatos de conferências interrompidas por imagens de ódio e/ou pornografia e linguagem ameaçadora”.
Youtuber diz que “foi comédia"
O autor dos vídeos que foi identificado pela PJ, conhecido no YouTube como RedLive13, diz que o que fez “foi comédia” e que há casos de invasões semelhantes no estrangeiro. Num conjunto publicações temporárias no Instagram (Stories), o youtuber confirma que foi contactado pela PJ e que recebia senhas de acesso enviadas pelos alunos. “Nunca insultei nenhum professor, quem insultou foram os alunos”, “vocês pesquisam ‘invasões de Zoom na Internet’ e aparece a estrangeirada toda a fazer invasões de Zoom” e “perturbava à aula, perturbava, mas às vezes entrava na aula lá e aquilo já parecia a selva”, são algumas das justificações do youtuber que diz estar a receber ameaças de morte nas redes sociais.
Paralelamente à investigação da PJ, o YouTube também está a apagar vídeos destas invasões que são denunciados pelos utilizadores. Embora o site não tenha regras específicas contra “zoombombing”, muitos dos vídeos desrespeitam a política do YouTube sobre assédio e discurso de ódio. Para fazer uma queixa relativa a um vídeo, deve-se carregar nos três pontos no canto inferior direito dos vídeos e escolher a opção “denunciar”.
O PÚBLICO tentou contactar a plataforma para esclarecer a norma relativa a vídeos apagados que voltam a ser publicados, mas não obteve resposta até à hora de publicação deste artigo. Em casos de vídeos extremistas ou vídeos com direitos de autor (por exemplo, filmes pirateados), o YouTube cria uma espécie de impressão digital do vídeo (conhecida como “hash”). Todos os vídeos carregados no sistema são comparados com esta impressão digital para garantir que conteúdo ilegal não regressa ao site.