Covid-19: Podem morrer 300 mil pessoas em África
A Comissão Económica para África das Nações Unidas apelou esta sexta-feira para que se avance com uma ajuda de 100 mil milhões de dólares para o continente africano.
É provável que a pandemia de covid-19 mate pelo menos 300 mil africanos e ameace empurrar 29 milhões para a pobreza extrema, disse esta sexta-feira a Comissão Económica das Nações Unidas para África (ECA), apelando para que se avance com uma ajuda de 100 mil milhões de dólares para o continente.
Os 54 países africanos relataram até ao momento menos de 20 mil casos confirmados da doença, uma pequena fracção dos mais de dois milhões anunciados por todo o mundo. A Organização Mundial de Saúde avisou esta quinta-feira que África pode ter até dez milhões de casos nos próximos três a seis meses.
“Para proteger e construir uma prosperidade partilhada, pelo menos 100 mil milhões de dólares são necessários de imediato para uma resposta de saúde e social”, disse a ECA.
A ECA também está a apoiar um apelo dos ministros das Finanças africanos para que haja um estímulo económico adicional na ordem dos 100 mil milhões de dólares, o que incluiria o adiamento do pagamento das dívidas externas.
A organização internacional delineou quatro cenários com base no nível das medidas de prevenção introduzidas pelos governos africanos. Na ausência total de medidas, o seu estudo calcula que mais de 1,2 mil milhões de africanos vão ficar infectados e que 3,3 milhões vão morrer ainda este ano. O continente africano tem uma população de cerca de 1,3 mil milhões de pessoas.
No entanto, a maioria dos governos em África já ordenou medidas de distanciamento social, desde recolheres obrigatórios a orientações de viagens para alguns países em completo confinamento. Mas, no seu melhor cenário, onde os governos introduziram duras medidas de distanciamento social e há por semana 0,2 mortes por 100 mil habitantes, África terá 112,8 milhões de infectados, dos quais 2,3 milhões terão de ser hospitalizados e 300 mil morrerão.
Combater a doença será complicado por 36% dos africanos não terem acesso a instalações de lavagem doméstica e por o continente apenas ter 1,8 camas de hospital por cada mil habitantes. Em França, em comparação, há 5,98 camas por cada mil habitantes.
Há, no entanto, um factor a favor do continente: tem uma demografia jovem, uma vez que 60% da população tem menos de 25 anos, o que deverá ajudar no combate à doença. Mas, por outro lado, 56% da população urbana está concentrada em bairros de barracas e grande parte é vulnerável por ter VIH/sida, tuberculose e sofrer de malnutrição.
Além disso, África importa 94% dos fármacos que consome, diz o estudo da ECA, referindo que pelo menos outros 71 países proibiram ou limitaram as exportações de certos produtos considerados essenciais para se combater a doença.
“No melhor cenário, 44 mil milhões de dólares seriam necessários para testar, para equipamento de protecção individual e para tratar todos aqueles que requeiram hospitalização”, lê-se no relatório.
Dinheiro que o continente africano não tem por a crise também ter encolhido a sua economia na ordem dos 2,6%. “Calculamos que entre cinco milhões a 29 milhões de pessoas vão ser empurradas para a linha de pobreza extrema dos 1,90 dólares por dias, devido ao impacto da covid-19”, continua o estudo.
Só a Nigéria deverá perder entre 14 mil milhões e 19,2 mil milhões de dólares em receitas petrolíferas este ano. E os preços de outros produtos exportados por África também deverão sofrer uma queda por os confinamentos na Europa e nos Estados Unidos estarem a pôr em perigo a indústria têxtil africano e o turismo, que representa 8,5% do PIB de África.