Cannes 2020 pode revelar-se numa associação com os festivais de Outono
Numa entrevista à Variety, Thierry Frémaux, director artístico do festival reafirma: Cannes 2020 não será online, nem será um festival mais pequeno. Ou será Cannes ou não será. Mas revela que Cannes 2020 pode ser uma marca ao serviço do relançamento do sector e das salas no Outono. Onde poderá haver uma aliança entre festivais.
As perguntas sobre o mais importante festival de cinema do mundo, Cannes e a sua edição 2020, cuja organização adiara já a sua realização em Maio para finais de Junho ou início de Julho e que depois viu esse projecto cancelado pela decisão do governo francês de não aliviar as restrições devido à crise pandémica antes de 11 de Maio, aos poucos começam a ter respostas. A organização, que garantira já que uma edição online da 73.ª encarnação do evento não está em cima da mesa, volta a reafirmar – entrevista do director artístico do festival, Thierry Frémaux, à revista Variety – que isso, um festival online, não é Cannes. Nem uma edição menor ou com menos secções.
“Se o festival de Cannes tiver lugar será em plena posse da sua imagem e dos seus recursos. Se o Festival de Cannes tiver lugar isso significa que a vida venceu”. E isso, Frémaux explicita, não vai acontecer durante o Verão. Mas algo pode acontecer no Outono, época em que o festival quer estar ao lado das salas de cinema, questão sempre crucial para ele, na origem até da sua posição face aos filmes Netflix. É para o Outono que se projecta o relançamento do sector. Os programadores do festival, que continuam a ver os filmes que as produtoras lhes enviaram, poderão utilizar a marca Cannes 2020 para ajudar à sua promoção.
“[Há] belos filmes que nos chegam de todo o mundo. Queremos trazê-los à luz do dia para que eles encontrem espectadores quando chegar a altura de se estrearem no Outono”. É no Outono, confirma Frémaux, que os primeiros acontecimentos que juntam milhares de pessoas, como um festival (Cannes junta cerca de 200 mil espectadores nas suas sessões mas recebe também perto de 40 mil profissionais do sector), poderão finalmente acontecer. “Veremos como se poderão desenrolar os festivais de Veneza, Toronto, San Sebastian e Deauville”. E é aqui, falando nos outros festivais, os do Outono, que Frémaux abre uma janela sobre o que pode estar em preparação: uma aliança. Revela que desde o início da crise tem estado a conversar com o director de Veneza, Alberto Barbera, para que “se fizesse algo em conjunto se Cannes fosse cancelado. Continuamos a falar”, revela. “Outros festivais convidaram-nos: Locarno, San Sebastian, Deauville. São gestos que muito nos tocam. E em Lyon, no Festival Lumière [em Outubro, e que ele próprio dirige] planeámos uma série de estreias mundiais como parte do programa”.
Secções paralelas do festival, como Quinzena dos Realizadores e a Semana da Crítica, tinham sido já canceladas. A edição 2020 já tinha perdido algumas das suas peças. Já o Marché du Film 2020, o braço negocial do festival, onde os agentes do sector compram filmes, tratam de angariar financiamento para novos projectos e programam o seu ano, deverá decorrer, esse sim, online entre 22 e 28 de Junho independentemente do futuro do festival, escrevem a Variety, a Screen International e a Hollywood Reporter. Que recordam que o responsável do mercado, Jerome Paillard, já tinha admitido que as negociações, apresentações promocionais e mesmo a exibição de alguns filmes poderiam decorrer via ferramentas como o Zoom ou a plataforma própria Cinando.