Covid-19: em Moura o número de infectados subiu para 33

Um único indivíduo terá contribuído para o contágio de 32 elementos da comunidade cigana de Moura e do único caso na comunidade não cigana.

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O presidente da AMEC alertou ontem para as consequências de um possível foco de coronovírus que possa ocorrer no Bairro das Pedreiras, em Beja, onde vive a maior comunidade cigana em Portugal Enric Vives-Rubio

O Serviço Municipal de Protecção Civil de Moura (SMPC) divulgou nesta tarde de sábado que se registaram, até à meia-noite, mais 14 casos positivos de infecção pelo novo coronavírus na cidade de Moura, que vêm acrescer aos 19 ontem confirmados. “Estes novos casos positivos estão todos relacionados com os que já haviam sido confirmados nos últimos dias” refere o SMPC através de comunicado, frisando que se aguardam os restantes resultados das colheitas realizadas no concelho.

Presidente da Câmara de Mora, Álvaro Azedo, adiantou ao PÚBLICO que a comunidade cigana do bairro do Espadanal, onde se concentra o foco infeccioso, e que se localiza a cerca de 1,5 quilómetros da cidade de Moura, “está totalmente confinada.” Elementos da GNR e da PSP asseguram um cordão sanitário que impede entradas e saídas de pessoas no bairro, a não ser aquelas que a autarquia disponibilizou para assegurar o fornecimento de alimentos e medicamentos aos 59 moradores da comunidade.

O autarca diz ter sido “muito difícil” isolar os elementos da comunidade cigana por viverem “colados uns aos outros.” Se as famílias afectadas “não se sensibilizarem para o problema torna-se muito mais difícil gerir a situação critica que se vive no bairro”, acrescenta o autarca.

Todos os elementos do bairro do Espadanal “estão identificados e confirmada a sua presença”, adiantou ao PÚBLICO, Diogo Araújo Saraiva, enfermeiro e coordenador do SMPC.

Neste momento, não entra nem sai ninguém do bairro do Espadanal. Um casal cigano tentou hoje levar alimentos para crianças do bairro, mas não foram autorizados a entrar, porque a autarquia assegura o fornecimento de bens alimentares e de medicamentos para toda a comunidade.

“Não tem sido fácil”, reconhece Álvaro Azedo, frisando que “foi necessário uma atitude mais musculada por parte da GNR, para controlar a situação”. Mas apesar das dificuldades, o autarca assume que é “obrigação do município proteger todos e cuidar dos que mais precisam”.

Desde ontem que as autoridades envolvidas na manutenção do cordão sanitário fazem a chamada dos residentes no bairro do Espadanal, “duas vezes por dia e estão lá todos”, salienta o coordenador do SMPC, acrescentado que os elementos que fazem parte da comunidade “foram todos testados.”

O foco infeccioso na comunidade cigana terá tido origem num dos seus membros que faz hemodiálise no Hospital José Joaquim Fernandes, em Beja. Depois de revelar estados febris, a 5 de Abril, deslocou-se ao centro de saúde de Moura que o encaminharam para os Bombeiros Voluntários locais. Foi então transportado de ambulância até à área dedicada à covid-19, a funcionar no Centro de Saúde de Beja, para fazer o teste que veio a revelar-se o primeiro caso positivo de uma pessoa infectada no concelho de Moura.

No dia seguinte surgiu o segundo caso, uma mulher (que não pertence à comunidade cigana) que costumava seguir na ambulância com o primeiro infectado para fazer hemodiálise em Beja. Este segundo teste positivo alertou o SMPC para a necessidade urgente de testar todos os elementos da comunidade cigana.

Com a chegada dos primeiros resultados verificou-se que 17 crianças e dois adultos estavam infectados.

Aguardam-se mais resultados dos testes já realizados e “é de temer que toda a comunidade possa estar infectada” admite Álvaro Azedo.

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