Covid-19: três mil voluntários querem ajudar idosos que vivem em lares

A idade é um dos factores de risco para quem tem o vírus SARS-CoV-2 e cerca de 15% das vítimas mortais registadas em Portugal viviam em lares – que têm acusado falta de recursos para fazer frente à pandemia. O registo para se tornar voluntário pode ser feito online.

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Das 435 mortes registadas por covid-19 em Portugal, 86% tinham mais de 70 anos Paulo Pimenta

A campanha de voluntariado lançada pelo Governo chamada “Cuida de Todos”, para dar apoio aos idosos que vivem em lares em tempos de pandemia, já recebeu mais de 3000 inscrições de pessoas dispostas a ajudar. A notícia foi dada esta sexta-feira pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que disse que “mais de três mil voluntários se ofereceram para colaborar com o pessoal dedicado” dos lares de idosos, informação também confirmada ao PÚBLICO pelo Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.

Os distritos de Lisboa e do Porto são aqueles que “têm mais expressão” de pessoas inscritas, diz fonte do Ministério do Trabalho ao PÚBLICO, mas há voluntários em todos os distritos e nas regiões autónomas. E a boa vontade não olha a profissões: “Há estudantes, pessoas desempregadas, médicos, enfermeiros, actores, professores, arquitectos, assistentes dentários, auxiliares educativas, auxiliares de acção médica, agentes imobiliários…”

A inscrição pode ser feita online e, no site, é pedida uma série de dados pessoais como o nome completo, idade, profissão, área geográfica onde se pretende fazer voluntariado, se tem viatura própria, se mora com alguém que seja considerado grupo de risco, qual a disponibilidade horária e se está disposto, ou não, a estar em contacto com alguém infectado com covid-19. No final, é preciso declarar que se trata de alguém sem “problemas de saúde que possam comprometer a actividade de voluntariado”, que não esteve em contacto com alguém infectado nos últimos 14 dias e que não viajou para fora de Portugal nas últimas duas semanas.

“Sabemos pouco sobre o covid-19, mas sabemos que os nossos idosos, aqueles que sempre cuidaram de nós, são uma população duplamente fragilizada: pela doença e pelo isolamento”, lê-se no site que tem, à cabeça, a frase “Vamos cuidar de quem já cuidou de nós” e um vídeo promocional.

A campanha foi lançada na segunda-feira e tem como objectivo “reforçar as equipas de recursos humanos nos lares e, assim, criar redes de retaguarda para os funcionários destas instituições”. É a Cooperativa António Sérgio para a Economia Social (CASES) que faz a ordenação dos voluntários por vários critérios que permitam, numa segunda fase, responder às necessidades das instituições. Até domingo, a CASES tinha já recebido 847 ofertas de voluntariado, das quais mais de 500 para lares.

Cerca de 15% das vítimas mortais são idosos que vivem em lares

Portugal registou até esta sexta-feira 15.472 casos confirmados de covid-19 e um total de 435 mortes – 86% tinham mais de 70 anos. O PÚBLICO noticiou nesta quinta-feira que cerca de 15% das vítimas mortais por covid-19 em Portugal eram idosos que viviam em lares; até esta terça-feira, tinham já morrido com a doença pelo menos 61 pessoas residentes em lares e há ainda cerca de 800 trabalhadores destas instituições em isolamento profiláctico. “Dos dados que temos recolhido, cerca de 50% das pessoas que estão nos lares têm mais de 80 anos. A situação dos lares é sempre complexa atendendo à sua população”, contextualizava então a ministra Ana Mendes Godinho.

Autarcas, dirigentes de lares de idosos e de associações do sector não se têm cansado de avisar que estas estruturas são uma “bomba relógio” na epidemia de covid-19 pela falta de condições de muitas e também pela carência de material para a realização de testes de rastreio laboratorial ou pelo grande atraso na marcação, o que tem potenciado o contágio.

São várias as instituições que se têm queixado de falta de condições para garantir o isolamento dos mais velhos e, na terça-feira, o presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), Manuel Lemos, pediu que os hospitais deixassem de devolver idosos infectados aos lares por estes não terem condições nem recursos. Referindo que a entrega aos familiares também não era solução, Manuel Lemos propôs a criação de instalações específicas para acolher idosos que tenham diagnóstico positivo para covid-19, seja seleccionando um lar por concelho ou distrito para o efeito, ou montando um hospital de campanha.

Questionada sobre denúncias como esta, a directora-geral da Saúde, Graças Freitas, afirmou que essas alternativas devem ser encontradas pelas entidades gestoras dos lares residenciais, em colaboração com as autoridades locais. “O que as normas dizem é que as autoridades de saúde competentes, as outras autoridades territorialmente competentes e obviamente as autoridades que gerem estes lares terão que, perante uma situação concreta e avaliado o risco, encontrar a nível comunitário a melhor solução possível”, explicou. “A maior parte das situações das pessoas que têm covid-19 devem ser tratadas em domicílio e o mesmo se aplica a lares onde estão confinadas várias pessoas”, afirmou a directora-geral, sublinhando que estes utentes devem ser isolados dos restantes.

Segundo as orientações da DGS para os lares de idosos e as unidades de Cuidados Continuados e Integrados, publicadas na terça-feira, “as transferências de doentes para outras unidades ou instalações deverão ser articuladas entre a instituição, a autoridade de saúde local e outras entidades locais e obrigam à realização de teste para SARS CoV-2”. com Lusa

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