Covid-19: Facebook partilha mapas dos passos dos utilizadores para combater pandemia
As novas ferramentas para ajudar a travar a epidemia de covid-19 incluem mapas com os movimentos e ligações entre os utilizadores.
Numa altura em que muitos Governos procuram recolher mais dados sobre os movimentos dos cidadãos para compreender a propagação da covid-19, o Facebook decidiu expandir o acesso ao Data for Good, um programa que recolhe informação agregada e anónima dos utilizadores em todo o mundo para investigações académicas. As novas ferramentas para ajudar a travar a covid-19 incluem mapas com os movimentos e conexões dos utilizadores. Um dos objectivos é perceber se as pessoas estão mesmo a ficar em casa.
Nos EUA, a rede social também está a pedir aos internautas para preencherem questionários, criados em parceria com a Universidade de Carnegie Mellon, sobre os seus sintomas. Devem ser utilizados para identificar novos focos de contaminação pelo novo coronavírus no país.
“Como ter sintomas é frequentemente um precursor de uma ida ao hospital ou ficar gravemente doente, se isto funcionar, pode-se produzir um mapa semanal que ajudará hospitais a antever o número de casos que poderão ter nos dias seguintes”, sugere Mark Zuckerberg, director executivo do Facebook, numa publicação na rede social. Se a informação recolhida se provar útil, a rede social quer disponibilizar questionários idênticos noutros países.
A iniciativa chega dias depois de o Google também começar a partilhar relatórios de mobilidade comunitária sobre as deslocações dos seus utilizadores.
Desde o começo do ano que têm surgido várias aplicações e sites de entidades oficiais, profissionais de saúde, redes sociais e voluntários para recolher informação sobre a pandemia de covid-19. Na Península Ibérica, por exemplo, mais de 200 mil pessoas usam uma aplicação espanhola (Peoople) para ganhar algum dinheiro ao provar que ficaram em casa com base nos dados de geolocalização.
Mas há muitos investigadores que receiam o impacto destes serviços na privacidade, com a Autoridade Europeia para a Protecção de Dados (AEPD, na sigla inglesa) a sugerir a criação de uma aplicação única, a nível europeu, em vez do número crescente de aplicações que têm surgido em diversos países. Idealmente, seria criada em parceria com a Organização Mundial de Saúde (OMS), para garantir a protecção de dados, por definição, a nível global.
“Uma parte crítica do programa Data for Good é que temos parcerias com investigadores e académicos que nos permitem produzir relatórios agregados e proteger a privacidade dos dados”, defende Zuckerberg. “À medida que os Governos procuram formas de usar dados para ultrapassar este surto, é importante manter os princípios de privacidade.”
A informação recolhida pelo Facebook está organizada em três tipos de mapas: mapas de “co-localização”, que revelam a probabilidade de pessoas numa determinada área ocuparem os mesmos espaços, mapas de movimentos regionais, que mostram se os habitantes de uma dada zona estão em casa ou a visitar locais públicos, e um índice de conexão social que mostra as relações de pessoas em zonas geográficas distantes.
O comunicado de apresentação inclui mapas de exemplo para países como Itália, Brasil, EUA, e Espanha.
A informação é agregada para mostrar informação ao nível da cidade ou do país, mas não mostrar os padrões de indivíduos. Quem não quiser partilhar a localização no Facebook pode aceder às definições em “conta > localização > desactivar historial de localização”.
Ao remover informação que associe os dados a clientes específicos, deixa de ser necessário aplicar regras de protecção de dados como o Regulamento Geral de Protecção de Dados (RGPD).
Nos últimos anos, porém, o Facebook tem-se visto no meio de vários escândalos de privacidade: desde os problemas com a empresa de análise e tratamento de dados Cambridge Analytica (que levou à recolha ilegal de dados de cerca de 87 milhões de utilizadores em todo o mundo), a ataques que expuseram os contactos de milhões de utilizadores do Facebook, ou programas que permitiam dezenas de marcas de telemóveis e tablets acedessem a informação dos utilizadores sem autorização.
A Comissão Nacional de Protecção de Dados (CNPD) diz ao PÚBLICO que já se estão a discutir limites para aplicações que usam a localização dos utilizadores para lidar com a covid-19. Na sexta-feira, os vários membros do Comité Europeu de Protecção de Dados, que incluem a CNPD, reuniram-se para elaborar orientações gerais. Uma das questões é perceber o impacto real das tecnologias na liberdade dos cidadãos, bem como a sua utilidade, quando as pessoas estão confinadas em casa e não são obrigadas a circular com telemóvel.