Covid-19: “Grande parte” do comércio poderá não reabrir no Baixo Alentejo

“Há anos que os pequenos comerciantes vêm fazendo um grande esforço para manterem os estabelecimentos abertos”, porque têm perdido clientes e vendas por causa da concorrência das grandes superfícies, e, agora, têm “um quadro negro à frente”.

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Miguel Manso

Os representantes dos empresários e comerciantes do Baixo Alentejo alertaram nesta terça-feira que “muitas” empresas da região enfrentam dificuldades e “grande parte” do comércio tradicional poderá não ter condições para reabrir, devido à pandemia da covid-19.

“Esperamos que a actual situação dure o menos possível, porque já há muitas empresas com dificuldades, vai ser muito difícil aguentarem mais um, dois, três meses e por muito mais tempo será insustentável”, disse hoje à agência Lusa o presidente da Associação Empresarial do Baixo Alentejo e Litoral (AEBAL), Filipe Pombeiro.

Já segundo o presidente da Associação do Comércio, Serviços e Turismo do Distrito de Beja (ACSTDB), João Rosa, “a manter-se esta situação por dois, três ou quatro meses, grande parte dos pequenos estabelecimentos comerciais [que foram obrigados a fechar] não vai reabrir, porque não terá condições”.

“Há anos que os pequenos comerciantes vêm fazendo um grande esforço para manterem os estabelecimentos abertos”, porque têm perdido clientes e vendas por causa da concorrência das grandes superfícies, e, agora, têm “um quadro negro à frente”, devido à covid-19, alertou João Rosa.

De acordo com os dois responsáveis, a maioria do tecido empresarial do Baixo Alentejo é constituída por micro e pequenas empresas, que estão com “dificuldades em aguentar” os negócios, devido às medidas para conter a covid-19, sobretudo as que foram obrigadas a fechar, mas também as que continuam a funcionar e perderam clientes e vendas.

“Toda a cadeia da economia está inflamada”, porque as empresas dependem dos clientes para poderem vender, facturar e pagar a fornecedores e despesas fixas, “mas sem ou com poucos rendimentos é difícil”, frisou Filipe Pombeiro.

Devido a perdas “abruptas” parciais ou totais de facturação, as empresas estão com “dificuldades” em pagar a fornecedores e outras despesas fixas, entre as quais figuram “à cabeça” os salários dos trabalhadores, disse.

“O primeiro impacto imediato em muitas empresas foi uma quebra abrupta da facturação”, vincou Filipe Pombeiro, frisando que, “em todas as crises houve quebras de facturação, mas nunca assistimos a facturações passarem quase ou mesmo para zero de um momento para o outro”.

As empresas obrigadas a fechar, como as de restauração e comércio, “pura e simplesmente deixaram de facturar” e as que continuam a funcionar viram a actividade, os clientes e as vendas e as facturações “diminuírem drasticamente”, indicou Filipe Pombeiro.

Segundo João Rosa, alguns estabelecimentos de restauração recorreram ao serviço de takeaway e “vão conseguindo manter” alguma actividade e ter alguma facturação, mas “abaixo do normal”, e “minimizar os efeitos”, mas as restantes empresas “estão, de facto, paralisadas e as quebras de facturação são totais”.

Já as empresas dos sectores agrícola e agro-industrial “continuam a facturar, mas menos, porque o consumo e a procura reduziram bastante e há restrições ao comércio internacional e problemas em escoar produtos para exportação”, disse Filipe Pombeiro.

Segundo os responsáveis, das empresas da região com dificuldades em pagar salários, “muitas” já aderiam ao lay-off e outras estão à espera de cumprir os requisitos para poderem aderir com “a intenção de manter postos de trabalho e o pagamento de salários”.

Filipe Pombeiro disse não ter conhecimento de casos de empresas “a fazer despedimentos em grande escala”, mas avisou que despedir trabalhadores é “inevitável”.

Por isso, “as medidas do Governo têm de ser ágeis para que as empresas possam despedir o mínimo possível”, avisou, frisando ser “impossível uma crise a este nível não ter como consequência o aumento do desemprego”.

Filipe Pombeiro e João Rosa concordaram com as medidas de apoio às empresas anunciadas pelo Governo, mas defendem alterações e alertam que são “insuficientes”.

“Tem havido um esforço do Governo no sentido de ajudar as empresas, mas as medidas anunciadas permitem injectar alguma liquidez nas empresas a curto prazo, mas são insuficientes e não vão resolver o problema a médio e longo prazo, porque as empresas que vão ter de se endividar para se financiar terão de pagar as dívidas mais tarde”, avisou Filipe Pombeiro.

Por isso, Filipe Pombeiro defendeu que “uma parte das linhas de crédito da covid-19 tem de ser forçosamente convertida em fundos perdidos”.

Filipe Pombeiro e João Rosa defenderam que as verbas relativas ao lay-off "têm de chegar já às empresas” para poderem pagar salários “a tempo” e que a adesão à medida deve ser compatível “com alguns despedimentos” e alargada aos sócios-gerentes.