Covid-19: Ordem dos Médicos condena encerramento do SAMS e pede intervenção do Governo
O encerramento tem impacto nos mais de 90 mil beneficiários do SAMS e também, indirectamente, no SNS. Segundo a Ordem, o serviço manteve-se apenas a funcionar “exclusivamente para assegurar os tratamentos em curso na Unidade de Oncologia e na Unidade de Radioterapia”.
O Conselho Nacional da Ordem dos Médicos condenou nesta sexta-feira a decisão de encerramento total do hospital e clínicas do SAMS, serviço de saúde dos bancários, e instou o Governo a intervir com vista à reposição da normalidade.
A direcção clínica do SAMS decidiu suspender os serviços devido à infecção pelo novo coronavírus de doentes e profissionais de saúde, tendo esclarecido que esta tinha sido a “melhor solução” encontrada e que iam ser aplicadas “novas regras de regime simplificado de lay-off, garantindo a “salvaguarda da segurança e saúde” de profissionais e doentes.
Em comunicado, a Ordem dos Médicos condena agora a decisão “incompreensível dos órgãos dirigentes do SAMS, solidarizando-se com médicos e doentes, e exige a reposição de todas as condições que permitam manter o contacto e o acesso aos cuidados de saúde. “O Conselho Nacional da Ordem dos Médicos insta também o Governo, através do Ministério da Saúde, a socorrer-se do Estado de Emergência declarado, para ter uma intervenção que permita repor a normalidade no SAMS”, é sublinhado.
A Ordem considera que “não é admissível que uma instituição privada fique de fora da solução, criando até mais dificuldades a outros hospitais do sector público, privado ou social, que agora somam à covid-19 os restantes doentes do SAMS que viram o seu acompanhamento abruptamente interrompido”.
No entendimento da Ordem, o custo público e para a saúde decorrente do encerramento de unidades de saúde torna obrigatória uma posição do Estado sobre este tema.
Na nota, a Ordem dos Médicos lembra que a Direcção-Geral da Saúde (DGS) veio esclarecer esta semana que apenas determinou o encerramento da urgência do hospital localizado nos Olivais, em Lisboa, não instando o fecho de toda a actividade do SAMS, como acabou por acontecer.
A Ordem salienta que o encerramento tem impacto nos mais de 90 mil beneficiários do SAMS, que deixaram de ter apoio, e também de forma indirecta no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e noutras unidades privadas, numa altura em que o país vive grandes dificuldades devido à pandemia.
O SAMS, segundo a Ordem, manteve-se apenas a funcionar “exclusivamente para assegurar os tratamentos em curso na Unidade de Oncologia e na Unidade de Radioterapia”.
“Para a prescrição de medicamentos urgentes foi assegurado apenas um número de telefone, o que tem inviabilizado a manutenção do contacto dos médicos com os doentes, bem como o acesso a dados clínicos necessários para apoiar decisões”, é sublinhado.
Para a Ordem dos Médicos, a situação torna-se “ainda mais gravosa” pelo facto de, a 24 de Março, ter sido enviado a todos os médicos do SAMS um email individual informando que a Comissão Executiva iria aplicar o regime de lay-off. “Viram-se assim os médicos com as suas agendas encerradas a partir dessa data e sem a possibilidade de manter pelo menos o contacto remoto/consulta telefónica com os doentes, como se mantêm noutras instituições do SNS ou privadas”, é referido.
A Ordem destaca ainda que o SAMS conta com “um total de cerca de 94 mil beneficiários, que durante anos foram seguidos pelos seus médicos nesta instituição onde têm toda a sua história clínica e que foram deixados ao abandono, sem continuidade de cuidados e com a sugestão de procurarem outras instituições, quebrando a relação médico-doente e violando todas as regras éticas”.