Um horizonte adiado
A partir do momento em que entramos neste estado, onde está a linha que determina o seu fim?
Já estava escrito no momento em que foi decretado o estado de emergência. Depois de um viria outro. Ao empurrar o país para essa situação de excepcionalidade, saltando o degrau do estado de calamidade, o Presidente da República sabia que nunca a situação se alteraria significativamente para permitir, de alguma forma, abrandar as duras medidas que vigoram no país.
Entre as cinco razões apresentadas pelo Presidente na altura, a “flexibilidade”, representada pela obrigatoriedade constitucional de avaliar a medida de 15 em 15 dias existia mais na forma do que na substância. Esta era uma das incomodidades de quem pensava que, estando os portugueses a levar a situação com seriedade, se poderia ter esperado um pouco mais por essa medida. A partir do momento em que entramos neste estado, onde estará a linha que determina o seu fim? Quando forem atingidos quantos casos de infectados? Quantas mortes por dia? Certamente não será quando tudo estiver a zeros, mas, sabendo que a periculosidade vai permanecer, quando será o momento para dizer às populações que esta é tolerável?
As divergências iniciais de António Costa nunca foram ao ponto de publicamente manifestar essa discordância e tem sido, aliás, ele que mais tem ajudado a reforçar a ideia de que, permanecendo em estado de emergência, os portugueses necessitam de aumentar ainda mais o seu empenho, assumindo comportamentos individuais que evitem a propagação do vírus. Neste “mês perigosíssimo” que agora começou, como o classificou ontem, vai ser preciso dar “um sinal mais claro de que não é mesmo época para andarmos de um lado para outro”. As medidas concretas vamos conhecê-las hoje, mas esperemos mais restrições aos nossos movimentos.
Muitos estarão cansados do isolamento e, pior, muitos começam a ver a conta bancária a diminuir drasticamente e a precisar de retomar a sua vida normal para garantir forma de pagar as contas. Mas, por muito difícil que seja, ainda não é momento de relaxarmos, sob pena de deitar a perder o muito que foi conseguido até agora.
Paralelamente, cada vez mais os portugueses vão começar a exigir um horizonte em que, apesar da covid-19, seja possível pensar nas coisas banais da vida, como retomar o trabalho, recomeçar as aulas, rever familiares, marcar férias... Talvez no dia 9 de Abril, quando se decidir sobre o resto do calendário escolar, o futuro comece a parecer mais claro, mas, para já, há que continuar a cavar em casa a trincheira que impede o avanço da epidemia.