Covid-19: portugueses em Bali elogiam o “inexcedível” trabalho da Embaixada de Portugal na Indonésia
Não falta comida nos supermercados e há alojamento para todos. Aos poucos, a ilha vai ficando deserta. “Os locais também não sabem bem o que fazer.”
Bali Repatriados. O grupo de WhatsApp — este grupo, entre muitos grupos criados por viajantes portugueses — tem cinquenta e oito participantes com histórias, dúvidas e um grande objectivo comum: voltar a Portugal.
Confrontado com a notícia de que a ilha declarara o estado de emergência, o grupo agitou-se. “A comunidade de WhatsApp ajuda-se”, comenta à Fugas Miguel Moreno, confiante num “voo de repatriamento para pessoas não residentes” nos próximos dias. “Estamos todos à espera”, refere este lisboeta, não deixando de elogiar o “trabalho extraordinário” da Embaixada de Portugal na Indonésia. “Tem sido inexcedível”, junta Miguel Moreno, referindo-se especificamente ao Responsável da Secção Consular, Emanuel Bernardes Joaquim, que tem estado bastante activo no grupo Bali repatriados.
Contactado pela Fugas, Emanuel Bernardes Joaquim dá garantias ao grupo. "A maioria dos portugueses que nos foram contactando já saíram (não temos como saber de quem não nos contactou). Está a ser trabalhada uma solução para a saída dos restantes, que estão ao corrente do trabalho que estamos a fazer. Estão a ser acompanhados por nós.”
“Tem-nos dado todas as informações necessárias”, sublinha Kevin Cardoso, de Tarouca, que tinha planeado viajar um mês pela Indonésia e um outro no Vietname (chegou no dia 4 de Março e o voo de regresso estava marcado para 31 de Abril). “A embaixada tem sido incrível, extremamente prestável”, confirma Constança (19 anos), que viaja com a namorada Carlota. "O responsável tem estado a trabalhar dia e noite e está sempre pronto a responder às nossas perguntas. Não nos sentimos abandonadas".
Até ver, e ao que tudo indica, os portugueses em Bali estão seguros — e todos com um visto de emergência que lhes permite permanecer no país até a situação estar normalizada. Kevin, por exemplo, partilha uma vila com dois italianos, um francês e dois espanhóis que entretanto conheceu. Partilha com eles uma vila, “um achado” (pagam 550 euros por mês por uma espaço que “normalmente custaria cerca de dois mil euros mês"). "Se a pandemia se prolongar no tempo, as pessoas de cá vão ter um grande prejuízo", lembra Kevin. “Neste momento”, assegura, “é muito fácil negociar preços e ter boas condições de alojamento”.
Para os locais, com uma ilha dependente do turismo, a vida pode transformar-se radicalmente. "A situação está a ficar mesmo complicada", diz Kevin Cardoso. “Para os locais e para quem tem negócios ligados ao turismo, os preços estão a ficar incrivelmente baixos. Os proprietários estão a tentar não ter tanto prejuízo, mas os preços são mesmo fora do normal”.
As praias, as cascatas e as restantes atracções turísticas estão fechadas — assim como as fronteiras dos países “vizinhos”. Aos poucos, também os restaurantes e os hotéis vão fechando as portas e colocando letreiros justificativos. “Há mais policiamento das ruas e também alguns militares. Não fazemos ideia o que pode acontecer neste pedaço pequeno do mundo. Ninguém está preparado”, comenta Kevin, ainda com algum dinheiro que tinha reservado para as férias.
Na zona de Samur, “oitenta por cento das coisas já fecharam”, estima Miguel Moreno, que garante não existir até agora qualquer problema de abastecimento. "Os supermercados dirigidos à comunidade internacional estão cheios de comida", sublinha Miguel, que tinha completado mais ou menos um terço do seu plano de viagem (de seis meses). Paga mensalmente cerca de 500 euros por uma vila num hotel. “O único problema é que o hotel está a ficar vazio. E se o hotel fecha...” Entre portugueses e habitantes locais, "há pessoas que estão a ficar sem dinheiro". E já são poucos os que pensam em sair de Bali pelos seus próprios meios e sem a ajuda do Ministério dos Negócios Estrangeiros. “O preço das viagens quintuplicou, aumentou exponencialmente.”
"Está tudo vazio. Praticamente não há turistas. Os locais também não sabem bem o que fazer", analisa Constança, há um mês na Indonésia, há três meses na Ásia. Ela e Carlota tiveram a sorte de encontrar um casal de portugueses que aluga vilas na zona de Nusa Dua por um preço “super razoável” (280 euros por mês mais as contas de electricidade). Perante a “situação instável mas fronteiras” e os “preços exorbitantes dos voos”, só lhes resta “esperar” por um voo. “Por aqui, as pessoas estão preocupadas. Mas a preocupação dos portugueses é diferente. Estamos todos à espera de sermos repatriados.