PSD prepara o dia seguinte à crise económica

Sociais-democratas esperam capitalizar eventual insatisfação face ao Governo por causa da conjuntura económica.

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Rui Rio mostrou-se preocupado com os efeitos da crise sanitária na economia LUSA/RODRIGO ANTUNES

O PSD está apostado em manter uma postura de “colaboração” e de “ajuda” ao Governo na crise de saúde pública, mas já está a preparar o dia seguinte à crise económica e é aí que espera poder capitalizar o eventual descontentamento em relação ao executivo de António Costa. Até lá, os sociais-democratas vão dar todo o espaço ao primeiro-ministro para governar e superar a pandemia.

Rui Rio já deixou bem claro que não irá tirar proveitos políticos das dificuldades que o sistema de saúde terá para enfrentar o coronavírus. Pelo contrário, quando veio a lume a possibilidade de ser decretado o estado de emergência, o líder do PSD mostrou estar ao lado do executivo. “O Governo continua a ter o nosso apoio e mesmo incentivo para escalar as medidas de combate à covid-19”, escreveu no Twitter a 15 de Março.

Apenas uma semana antes, António Costa, em entrevista ao PÚBLICO, tinha acusado Rui Rio de não ter “pensamento nenhum” sobre qualquer matéria de fundo da sociedade portuguesa. O líder do PSD não quis responder para não entrar numa “escalada gratuita de violência verbal” e o episódio ficou por aí.

A atitude colaborativa com o executivo de António Costa ficou também visível na intervenção de Rui Rio no plenário que aprovou o estado de emergência, no passado dia 18. “Este não é um Governo de um partido adversário, é o Governo de Portugal, que todos temos de ajudar neste momento”, declarou, então, o líder do PSD, numa intervenção que segue a sua linha estratégica de que o interesse do país está primeiro.

Como Rui Rio deixou de ter agenda – em cumprimento das medidas restritivas do estado de emergência – a intervenção do PSD tem sido sobretudo a nível parlamentar, altura em que a bancada tem procurado canalizar as suas preocupações através de perguntas dirigidas a membros do Governo ou de entidades públicas, evitando um tom crítico.

O timbre e a intervenção típica de um partido de oposição foram interrompidos e só deverão voltar à tona quando a crise sanitária estiver ultrapassada mas já se sentirem na economia os efeitos das medidas restritivas. Foi precisamente essa a preocupação que Rui Rio sublinhou, na passada terça-feira, depois de uma reunião com especialistas e autoridades de saúde pública. O líder do PSD prevê uma “situação complicadíssima” para a economia e é para esse cenário que o partido já está a trabalhar.

O presidente do conselho estratégico nacional do PSD, Joaquim Miranda Sarmento, anunciou a criação de uma task force de economistas e gestores para preparar medidas a curto prazo, mas também a médio prazo com um programa “de recuperação da economia nacional e de aumento da sua competitividade, através do investimento, exportações e emprego”. Esse plano será apresentado “em Maio ou Junho” quando os efeitos económicos da pandemia já forem mensuráveis e quando já se tiver uma ideia clara da resposta no plano europeu, ponto em que, aliás, o PSD também tem mostrado estar ao lado do Governo.

É na conjuntura económica – e não na saúde – que o PSD espera mais dificuldades para o Governo e um maior descontentamento. Aí, o partido de Rui Rio já terá uma resposta preparada ao mesmo tempo que não é acusado de falta de solidariedade para com o Governo. Resta saber se a dimensão da crise económica levará a uma crise política.

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