Covid-19: vamos unir-nos para combater esta doença – e combater também as mentiras
Pequim está empenhada numa campanha de propaganda para tentar desesperadamente transferir a responsabilidade pela pandemia global para os Estados Unidos, enquanto tenta apresentar-se como o herói que salvará outras nações deste vírus, vendendo equipamentos médicos extremamente necessários. Este esforço é em vão.
Os Estados Unidos estão lado a lado com Portugal à medida que o mundo enfrenta o surto da covid-19. Durante esta crise extraordinária, tenho admirado a força e a solidariedade do povo português. Tenho aplaudido – literalmente, da minha varanda na Lapa – os corajosos profissionais de saúde portugueses que estão a trabalhar, pondo a sua própria saúde em risco, para salvar vidas. Tal como muitos profissionais de saúde em todo o mundo têm partilhado, eles continuam a ir trabalhar, por isso devemos respeitá-los e reduzir a propagação da doença, ao ficar em casa.
No entanto, embora fiquemos em casa, a diplomacia não pára. A covid-19 espalhou-se de Wuhan para todo o mundo e não conhece fronteiras nacionais. Devemos redobrar os nossos esforços para cooperar e partilhar informações factuais sobre esta doença de forma rápida e transparente, a fim de salvar vidas.
Ao mesmo tempo, devemos trabalhar para combater a desinformação cínica que circula em tempos de crise. Embora, como dizem os portugueses, “a mentira [tenha] perna curta”, nas próximas semanas e meses, sociedades democráticas como Portugal e os Estados Unidos devem estar preparadas para denunciar mentiras e desinformação que visam explorar os nossos cidadãos durante este período difícil. Porque, tal como indica o ditado inglês, “uma mentira pode viajar por meio mundo enquanto a verdade calça as botas”.
Foi exactamente isto que aconteceu no início deste mês, quando um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Popular da China (RPC) fez falsas acusações contra os Estados Unidos relacionadas com o novo coronavírus.
O facto de o surto ter tido origem em Wuhan, na província de Hubei – e de o Governo chinês ter sido o primeiro a ter conhecimento –, é incontestável. O vírus circula em Wuhan desde Dezembro, ou até antes disso, segundo relatos do Governo chinês. Os médicos na linha de frente tentavam freneticamente tratar os primeiros pacientes, enquanto notificavam as autoridades do governo regional, e da República Popular da China, sobre o surgimento deste novo vírus “tipo SARS”.
A China tinha a importante responsabilidade de ter sido totalmente transparente sobre aquilo que os seus especialistas sabiam. No entanto, no início de Janeiro, as autoridades chinesas já tinham ordenado a destruição de amostras do vírus.
Pior ainda, as autoridades chinesas censuraram e puniram activamente os corajosos chineses que tentaram dizer a verdade. Li Wenliang, um oftalmologista que mais tarde contraiu a doença e morreu dela, foi questionado pelas autoridades regionais e forçado a assinar uma confissão em como tinha espalhado “falsos rumores”. As autoridades da RPC fizeram o possível para suprimir qualquer informação sobre a disseminação da covid-19, mesmo quando profissionais de saúde chineses tentavam heroicamente salvar as vidas de dezenas, centenas e mais tarde milhares de pacientes que estavam a adoecer.
À medida que preciosas semanas se passavam e a gravidade do surto se tornava evidente, representantes da RPC optaram por apenas partilhar informações seleccionadas, como dados da sequência genética, e continuaram a travar autoridades internacionais de saúde que estavam a oferecer assistência, solicitar acesso e em busca de mais informação. E, assim, o vírus continuou a espalhar-se pelo mundo.
Agora, Pequim está empenhada numa campanha de propaganda para tentar desesperadamente transferir a responsabilidade pela pandemia global para os Estados Unidos, enquanto tenta apresentar-se como o herói que salvará outras nações deste vírus, vendendo equipamentos médicos extremamente necessários. Este esforço é em vão. Quando esta crise finalmente diminuir, o mundo avaliará os custos desta quebra de colaboração internacional, os efeitos da supressão de informação factual importante, o impacto do impedimento de partilha de informação durante os estágios iniciais da epidemia e as consequências de campanhas de desinformação ao longo desta pandemia.
Durante estes tempos difíceis, tenho ainda mais orgulho em ser embaixador aqui em Portugal, um país cujos valores democráticos estão bem enraizados na sociedade, e um sítio onde o Governo leva a sério o seu dever de salvar vidas e não de salvar a face.
O autor escreve segundo o novo acordo ortográfico