Gaza, com dois infectados, está aterrorizada com o coronavírus
A Faixa de Gaza fecha-se ainda mais sobre si própria. Com várias horas sem electricidade por dia, um frágil sistema de saúde e uma grande densidade populacional, os habitantes de Gaza estão com muito medo.
Durante algum tempo, a Faixa de Gaza foi o único território da região sem casos de infecções por coronavírus. O sistema especial de licenças a conta-gotas faz com que haja poucas pessoas a sair e a entrar. Mas há algumas, e terá sido numa viagem ao Paquistão que foram infectadas as duas primeiras pessoas cujo teste deu positivo ao novo coronavírus no território.
As autoridades de Gaza, controlada pelo movimento islamista Hamas, agiram depressa, pondo-as em quarentena, levando a cabo desinfecções de zonas públicas, decretando o encerramento de cafés, restaurantes e mesquitas - locais onde muitos palestinianos do território para escapar da sensação opressiva de viver num território pequeno com dois milhões de habitantes.
“Claro que é muito difícil, mas a segurança é o mais importante, temos de tomar estas medidas”, diz Bayan al-Sultan, que trabalha numa empresa de telecomunicações e ainda não está em teletrabalho, embora espere que haja uma decisão rápida para os trabalhadores irem para casa. “Estamos muito assustados. Tomo todos os cuidados, mas mesmo assim, não é seguro”, desabafa, numa conversa por WhatsApp.
E mesmo que as pessoas tentem ficar em casa, o facto de o fornecimento de electricidade ser irregular - neste momento há oito horas com electricidade, seguidas de oito horas sem, diz Bayan al-Sultan - significa que é preciso ir às compras “no máximo dia sim, dia não”.
“É aterrorizador”, conclui.
"Pior que ataques israelitas"
“Estamos mais preocupados agora do que o que estivemos com os ataques militares israelitas dos últimos 20 anos”, diz o responsável do ministério da saúde de Gaza, Abdullatif al-Haj, ao site Al-Monitor. “O nosso sistema de saúde é frágil, não vai conseguir sobreviver.”
Não têm equipamento de protecção suficiente, e faltam ventiladores. Segundo disse ao diário britânico The Guardian Abdelnasser Soboh, director do gabinete da Organização Mundial de Saúde em Gaza, há 62 ventiladores no território, mas poderão ser precisos mais 100 se o vírus se disseminar. O território só conseguirá lidar com os primeiros cem casos, disse Soboh desta vez à revista israelita 972. “Depois disso vai ser preciso apoio extra.”
Além dos dois pacientes que voltaram do Paquistão, e que estão doentes mas estáveis, as autoridades decretaram também o isolamento de 1200 pessoas que vieram recentemente do estrangeiro - esvaziando escolas, entretanto fechadas, partes de hospitais e hotéis para as alojar.
O Hamas apelou entretanto a um entendimento com a Fatah, que lidera a Autoridade Palestiniana na Cisjordânia, para “uma unidade palestiniana a nível nacional” para fazer face à pandemia. Se uma série de restrições que existem em Gaza são fruto do bloqueio decretado por Israel - que, queixam-se os habitantes de Gaza, decide de modo aleatório quem pode sair ou entrar, e não há como saber se irá ser dada uma autorização nem quando - outras são fruto da rivalidade entre o Hamas e Autoridade Palestiniana: foi esta que decidiu recusar-se a pagar a electricidade à Faixa de Gaza em 2017.
O bloqueio israelita (e egípcio) aplica-se a uma série de materiais, incluindo de construção, e põe limites à importação de material médico e de medicamentos, o que deixa poucas reservas.
Enquanto isso, na Cisjordânia há 64 casos confirmados de infecção, e esta quarta-feira foi anunciada a primeira morte pela covid-19. A vítima foi uma mulher na casa dos 60 anos, de uma localidade perto de Jerusalém, e as autoridades estão preocupadas porque não há registo de contactos entre ela e as pessoas no registo de infectados, nem tinha estado no estrangeiro. No domingo à noite, o primeiro-ministro palestiniano, Mohammad Shtayyeh, ordenou que todos os habitantes da Cisjordânia se mantivessem em casa com excepções para pessoal médico, farmacêuticos, e trabalhadores de mercearias ou padarias.
Israel, onde há 2369 infectados, e morreram cinco pessoas com covid-19, anunciou que iria fechar todos os pontos de passagem entre o seu território e tanto a Faixa de Gaza como a Cisjordânia com excepção de casos humanitários urgentes.
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