Jerónimo: “Liquidar o vírus, sim”, mas é “inaceitável liquidar direitos”
Numa mensagem de vídeo nas redes sociais, o líder do PCP defende que as pessoas e a sua saúde “estão primeiro que os défices ou excedentes orçamentais”. E pede que não se deixe que “o medo tolha a nossa vida colectiva”.
“Combater e liquidar o vírus sim, mas é inaceitável em nome disso, liquidar direitos, cortar salários, fazer despedimentos, impor a lei da selva.” O aviso, muito directo e claro, foi deixado esta sexta-feira à tarde pelo secretário-geral do PCP numa mensagem em vídeo divulgada pelo partido na sua página na internet e nas redes sociais. Jerónimo de Sousa fez questão de insistir na necessidade de se proibirem imediatamente os despedimentos e se adoptarem “medidas de salvaguarda dos direitos”.
O líder comunista realçou que no mundo laboral “há quem se esteja já a aproveitar da situação, agigantando o medo e o pânico aproveitando-se da legítima preocupação dos trabalhadores para impor mais exploração”. À esquerda do PS, além do PCP também o Bloco já defendeu a proibição de despedimentos durante o período da pandemia.
Os comunistas são de opinião que não se devia decretar o estado de emergência já por considerarem que já há leis que permitem manter a população em recolhimento e até determinar o uso público de bens e serviços no caso de uma calamidade pública como a actual pandemia. Por isso se abstiveram na votação no Parlamento.
Admitindo “inquietação” com a situação actual, Jerónimo de Sousa deixou também a “esperança” de que “havemos de dobrar esta curva apertada”. Isso faz-se “não subestimando o suro epidémico” e respondendo com “coragem e determinação”. Por exemplo, continuando a cumprir as ordens de recolhimento, mas também (e apesar disso) fazendo um esforço para que o país “continue a funcionar dentro da normalidade possível”. “Todas as medidas de prevenção devem ser tomadas, sim, mas sem deixar que o medo tolha a nossa vida colectiva.”
Admitindo que o país “tem de continuar a fazer a sua vida” embora “em novas condições”, Jerónimo de Sousa insistiu na ideia de ser preciso garantir que a produção nacional responde às necessidades de bens e serviços – foi notória a debilidade do mercado no caso das máscaras de protecção, do gel desinfectante ou do álcool -, de vencer as “lógias do capitalismo”, que estão a levar à “especulação e ao aumento dos preços” de bens essenciais e de produtos de saúde indispensáveis.
Acrescentou a necessidade dos “apoios às famílias, aos idosos, aos trabalhadores, aos pequenos e médios empresários”. E vincou que se impõem neste momento “medidas de reforço e investimento no Serviço Nacional de Saúde para o capacitar para as exigências presentes, quer desta patologia quer para manter os cuidados de saúde a todas as outras necessidades de resposta”.
“As pessoas e a sua saúde estão primeiro que os défices ou excedentes orçamentais”, salientou Jerónimo de Sousa. “A situação que vivemos ajuda a perceber que é nos serviços públicos e no Serviço Nacional de Saúde que o povo encontra a garantia dos seus direitos, em particular do direito à saúde. Que esta lição fique retida para o futuro e não apenas em tempos de crise de saúde pública.” O líder comunista saudou todos aqueles que estão envolvidos na actual resposta às necessidades das populações, em especial aos trabalhadores da saúde.