Infecção de Michel Barnier com coronavírus deixa negociações da UE com Reino Unido a meio gás
Presidente da Comissão Europeia não tem sintomas mas vai realizar teste para despistar contágio. Equipa negocial europeia a cumprir isolamento. Nas instituições europeias, vigora o teletrabalho.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, vai realizar o teste do novo coronavírus, e toda a equipa da task force para a relação futura entre a União Europeia e o Reino Unido está a cumprir o protocolo de isolamento previsto para o caso de contacto com um doente de covid-19, confirmou o porta-voz do executivo comunitário, depois do anúncio da infecção do negociador da União Europeia para o “Brexit”, Michel Barnier.
O francês de 69 anos que lidera a equipa negocial europeia anunciou através de um vídeo no Twitter que o resultado de um teste realizado na véspera foi positivo para o coronavírus, e que se encontra “tão bem quanto possível” em isolamento total no seu domicílio em França. A equipa de cerca de 50 pessoas que trabalha directamente com Michel Barnier, e que já operava no sistema de teletrabalho, está a seguir as medidas de precaução sanitária, informou o porta-voz da Comissão, Eric Mamer.
Segundo este porta-voz, Ursula von der Leyen encontrou-se com o negociador europeu pela última vez há duas semanas e não revelou, até ao momento, qualquer dos sintomas de infecção. Ainda assim, a presidente do executivo, que habita num pequeno apartamento dentro do edifício sede da Comissão Europeia, vai realizar o teste de diagnóstico do coronavírus.
A última reunião de Barnier com o presidente do Conselho Europeu ocorreu no dia 6 de Março. Charles Michel tem estado a trabalhar a partir de casa desde a semana passada “e por recomendação do serviço médico vai manter a sua actividade nesse regime”. De resto, esse é o novo quotidiano de Bruxelas: milhares de funcionários em teletrabalho, reuniões em formato de videoconferência, missões e viagens de trabalho canceladas ou adiadas sine die, votações electrónicas por sistema remoto, questões urgentes tratadas por escrito ou por procedimentos de não-objecção.
A crise do coronavírus não parou o trabalho da Comissão, do Conselho e do Parlamento Europeus, mas obrigou as três instituições da UE a rever os seus métodos e procedimentos, num exercício criativo de adaptação ao novo regime de “confinamento estrito” que vigora na Bélgica — e noutros países da Europa — para conter a transmissão da doença.
Segundo o PÚBLICO confirmou junto da Comissão Europeia, há quase 25 mil funcionários a trabalhar em casa, com apenas os responsáveis por tarefas consideradas essenciais a deslocar-se diariamente para os seus postos de trabalho. A reuniões que não podem realizar-se por videoconferência, são canceladas. “Não podemos dizer que é ‘business as usual’, mas a Comissão continua a fazer o seu trabalho, tanto na gestão da crise do coronavírus como nas outras matérias prioritárias”, garantiu uma fonte.
Também no lado do Conselho da União Europeia, os contactos estão a ser reduzidos ao mínimo indispensável, com grande parte das interacções a decorrer de forma remota, e com a agenda monopolizada pela crise do coronavírus. Os encontros de embaixadores no Comité de Representantes Permanentes dos Governos da UE ainda estão a ser realizados presencialmente, embora com um número reduzido de pessoas, mas as reuniões de ministros e de chefes de Estado e governo são mantidas por videoconferência — o que obriga à sua designação como “informais” ou de “alto nível”.
No Parlamento Europeu, quase não se avista ninguém. A esmagadora maioria dos eurodeputados regressou aos seus países e instruiu o seu staff para trabalhar de casa: só os serviços de apoio informático, limpeza e correio estão diariamente no posto, para manter a máquina em operação. Aliás, os serviços técnicos têm estado a desenvolver uma nova plataforma para o voto electrónico à distância, uma vez que a conferência de líderes decidiu convocar uma sessão extraordinária na próxima semana, para votar as propostas legislativas avançadas pelo executivo em resposta à crise do coronavírus. Os serviços pedem aos eurodeputados para seguir remotamente os trabalhos e não viajar para Bruxelas.
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