Morreu Vieira Monteiro, um “banqueiro arguto”

O presidente do conselho de administração do Santander Portugal morreu esta quarta-feira, ao fim de uma longa carreira na banca que começou antes do 25 de Abril de 1974.

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LUSA/TIAGO PETINGA

O presidente não executivo do Santander em Portugal, António Vieira Monteiro, morreu esta quarta-feira na sequência de uma infecção pelo novo coronavírus. Estava a poucos dias de fazer 74 anos. Oficialmente, com este óbito, Portugal registou a segunda vítima mortal na sequência da covid-19.

No período do Carnaval, Vieira Monteiro tinha estado de férias com familiares e amigos numa estância de inverno nos arredores de Milão, para praticar esqui, tendo alguns dos elementos do grupo sido sinalizados para entrar em quarentena à chegada a Portugal, Vieira Monteiro incluído. Já em Lisboa, depois de detectada a infecção, foi internado no Hospital de São José, onde acabou por morrer,

António Vieira Monteiro tinha tido episódios de fragilidades respiratórias. A sua morte surpreendeu por se tratar de alguém com uma vida activa do ponto de vista desportivo: tinha um barco, fazia esqui aquático e esqui de inverno. Gostava de passar algum tempo na herdade que tinha no Alentejo.

Ao PÚBLICO, Rui Vilar (80 anos), de quem Vieira Monteiro foi estagiário no Banco Português Atlântico (BPA), destacou “a carreira notável que fez na banca, para além de ter sido um excelente colega no BESCL e na CGD.” Observou ainda que “era também um banqueiro arguto e, por vezes, confundiam a sua exigência com mau feitio.”

O nome do ex-presidente do Santander Portugal está ligado à geração de banqueiros formada no BPA, onde se cruzou com Rui Vilar, de que foi estagiário ao lado de Seruca Salgado (ex-BPI), de Vasco Vieira de Almeida (à época administrador do BPA, e um dos braços direito do presidente Cupertino de Miranda), e de Francisco Veloso (ex-presidente do BCI).

Por sua vez, o advogado e ex-banqueiro Vasco Vieira de Almeida evocou: “trabalhámos juntos no BPA, ele na parte internacional, onde começou a ganhar experiência que lhe possibilitou ir subindo na escala até à presidência do Santander”. E referiu as suas qualidades: “[Vieira Monteiro] sempre foi muito competente, extremamente organizado, e muito determinado.” Lamentou ainda a morte prematura “de um amigo sempre muito correcto e com quem mantive sempre uma excelente relação”.

Pouco antes da revolução de 1974, Vieira Monteiro transitou do BPA com Vieira de Almeida e Rui Vilar para o Crédito Predial Português (CPP). E acompanhou Vilar quando, em 1985, este foi presidir ao BESCL, seguindo-o também, em 1989, quando foi chefiar a Caixa Geral de Depósitos onde, em 1993, Vieira Monteiro assumiu a vice-presidência e a liderança do BNU após a fusão. 

E foi na qualidade de vice-presidente da CGD que, anos mais tarde, em 2019, Vieira Monteiro foi chamado a prestar declarações na Comissão Parlamentar de Inquérito aos actos de gestão no grupo estatal que levaram à recapitalização em larga escala da instituição pública. Sobre as operações baptizadas de “Boats Caravela”, e que originaram perdas volumosas para o grupo estatal, o então presidente do Santander esclareceu que embora tenha sido o gestor “que apresentou e preparou a operação”, “estava em Macau enquanto presidente do BNU” quando o contrato foi assinado. 

No final dos anos noventa, Vieira Monteiro foi um dos protagonistas que representou o Estado português (como banqueiro de investimento do grupo CGD), na negociação de venda da Mundial Confiança ao grupo Santander, e para onde acabará por transitar no início da década seguinte. Em 2010, substituiu Nuno Amado, como principal executivo, à frente do banco espanhol em Portugal. E foi nessas funções que liderou a comissão executiva da instituição financeira, controlada pelo grupo espanhol Santander, durante os anos de ajuda externa, nomeadamente durante a implementação de medidas impostas pela troika.

Em Janeiro de 2019, deixou as funções executivas no Santander, passando a presidente do conselho de administração (chairman), lugar que ocupava. 

Quando abandonou a liderança executiva do Santander Totta, Vieira Monteiro considerou, segundo a Lusa, que deixava o cargo com o banco “preparado para continuar a enfrentar o futuro” e salientando que, quando assumiu a liderança, a instituição “não era quase nada”.

Na mesma altura, Vieira Monteiro apontou ainda a “aposta calculada” nas empresas como um dos factores do sucesso da instituição. “Ao fim de sete anos, eu vou continuar no banco, vou ser presidente do Conselho de Administração e, portanto, vou continuar no banco, acho que já tenho idade de deixar a parte executiva, já que vou fazer 73 anos, […] mas aquilo que hei-de dizer é que há sete anos quando entrei o banco não era quase nada”, afirmou.

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