É um dos modelos mais vendidos em todo o mundo, com uma herança de mais de cinco décadas — ainda que nos últimos anos, com a (questionável) decisão de lançar um novo nome para as versões carrinha e cinco portas, com o Auris, tenha andado quase desaparecido do mercado luso. Certo é que, mesmo após este intervalo de mais de uma década (o Auris foi lançado em 2007), o nome Corolla não perdeu valor de mercado: um fenómeno a que a construtora nipónica terá dado pouca importância.
Mas não vale a pena chover no molhado: a Toyota arrepiou caminho e, no ano passado, apresentou com pompa e circunstância a nova família Corolla que, além de ter conquistado consumidores, obteve o primeiro lugar no pódio das vendas globais (em Portugal, onde o Clio é rei, não conseguiu entrar no exclusivo grupo dos dez mais vendidos). Uma família de três corpos — hatchback, sedan e carrinha (Touring Sports) — capaz de atender às mais diferentes necessidades, mas entre a qual se destaca a destreza com que a marca trata o sistema híbrido por tu, fruto de uma alargada experiência e de um avultado investimento. É também de sublinhar a decisão de, definitivamente, abandonar as alternativas a gasóleo, ao sabor das actuais tendências (e exigências).
Assim, das três propostas disponíveis, todas a gasolina, 1,2 litros turbo, 1,8 e de 2,0 litros, duas (as de maior capacidade) apresentam-se com sistemas híbridos capazes de arrancar sorrisos na altura de verificar o consumo médio (e também de calcular valores de imposto, os quais têm muito em conta os números das emissões de CO2). É certo que a mais potente, com 180cv e combinada a uma unidade eléctrica de 80kW, é mais apetecível pela sua desenvoltura (e também por ser novinha em folha, com uma série de melhorias em todo o grupo propulsor).
No entanto, arriscamos antes as nossas fichas no mais modesto e racional 1,8 litros, com 122cv e apoiado num motor eléctrico de 53kW — aquele que a Toyota submeteu a Carro do Ano, concurso organizado pelo grupo Impresa e que conta com um júri de 19 jornalistas especializados, tendo saído vencedor na categoria de melhor híbrido (concorria com Hyundai Kauai HEV 1.6 GDI, Lexus ES 300h e Volkswagen Passat GTE) e, mais importante, tendo levado para casa o troféu maior, ao qual havia outros seis candidatos de respeito: BMW Série 1, Kia XCeed (melhor SUV compacto), Mazda3, Opel Corsa, Peugeot 208 (melhor citadino) e Skoda Scala (melhor familiar).
Um Toyota emocional? Sim, é verdade
Emoção e Toyota nem sempre andam de braços dados, com a marca nipónica a vingar melhor por atributos como a fiabilidade e a durabilidade (haverá já alguém a lembrar-se de exemplares como o GT86 ou o mais recente GR Supra GT, mas também não escrevemos que a marca não sabia fazer desportivos...). Quando se pensa nos modelos mais voltados para as famílias ou para uma utilização quotidiana, durante muito tempo estes modelos Toyota terão arrancado mais bocejos que suspiros. Mas a introdução da plataforma de arquitectura global TNGA, que também é o coração do Prius e do C-HR, assim como a decisão do CEO Akio Toyoda de “acabar com os carros chatos”, tornou possível reunir num só modelo linhas dinâmicas e uma performance que transforma a presença do carro em estrada, independentemente do corpo.
Já o comportamento em estrada do bloco híbrido 1,8 é sereno e poupado, ganhando outro espírito (barulho e consumo, claro) quando accionado o modo Sport. E nem mesmo a manutenção de uma caixa de variação contínua nos faz mudar de ideias. Até porque, ainda que se note algum fosso entre o ruído da rotação e a resposta do motor, esta é cada vez mais imperceptível.
Caso se escolha o modo mais eficiente, não são raras as vezes que o automóvel entra automaticamente em modo eléctrico, contribuindo para a poupança de combustível e para um ar menos carregado de emissões poluentes.
Cereja em cima do bolo é todo o investimento da marca em tecnologia, sobretudo nos assistentes à condução, reunidos no Toyota Safety Sense que, quando equipado com radar de ondas milimétricas, acrescenta um muito preciso regulador de velocidade adaptativo ou um sistema de précolisão com reconhecimento de peões.
Nos materiais, é de reconhecer o investimento na qualidade, sobressaindo a boa montagem e construção, o que também contribui para o conforto a bordo (nas versões mais equipadas, os bancos preocupam-se com a ergonomia, resultando em viagens menos cansativas). Já o painel e consola foram limpos, é certo, mas há muito ainda por melhorar — o mesmo acontece com a apresentação dos sistemas de infoentretenimento e conectividade. Mas se não houvesse aperfeiçoamentos a fazer, onde estaria a piada?