Coronavírus: noite académica de Braga sem estudantes e a fazer contas ao prejuízo

Várias discotecas encerraram por tempo indeterminado. Junto ao campus de Gualtar os bares já sentem os danos colaterais do coronavírus– os clientes diminuíram para menos de metade, o que obriga a uma maior ginástica para cobrir despesas.

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Muitos dos apartamentos ficaram vazios nos últimos dias, por força de um regresso a casa de muitos dos estudantes. ANDRÉ RODRIGUES
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Perto da meia-noite, dentro do bar Pátio 37, junto ao campus de Gualtar, no pólo de Braga da Universidade do Minho (UM), não há mais do que duas pessoas, que só entraram para pedir bebidas no balcão para logo a seguir voltarem ao exterior. É quarta-feira académica, noite de festa e de enchente nos bares daquela zona da cidade, mas não parece.

A música continua no volume habitual de outros dias, com batida dançante nas alturas. Porém, não há ninguém a dançar. Numa altura em que o interior daquele espaço já estaria à pinha, é na esplanada que as poucas dezenas de pessoas que ali estão se concentram. Em noite longa, feita para os estudantes de Braga, são poucos os membros da academia que por ali andam. Desde sábado, quando foi anunciado o encerramento temporário daquele pólo, na sequência da infecção de um estudante pelo novo coronavírus, a noite de Braga tem estado assim - com pouca gente e com os proprietários dos espaços de diversão nocturna a fazer contas ao prejuízo. Algumas das discotecas mais procuradas pela comunidade académica optaram também por encerrar por tempo indeterminado.

Diana Gonçalves é uma das poucas pessoas que está na esplanada deste bar. Não estuda na UM, mas quase todas as semanas passa nos bares das imediações do campus de Gualtar para desfrutar da noite académica com alguns amigos. Mas esta semana a festa é tudo menos para estudantes. Diz que poucos viu passar por ali desde que chegou. Não estranha. Já desconfiava que o anúncio da suspensão das aulas ia ter efeitos.

E esses efeitos alargaram-se a outros bares do mesmo largo. No Carpe Noctem o cenário não é muito diferente. Aberto até às 2h, costuma haver fila para o balcão até encerrar. Faltam duas horas para fechar e, apesar de as mesas estarem compostas, está longe do rebuliço de outras semanas. Ao PÚBLICO, o proprietário Mário Abreu diz ter perdido, sobretudo “desde domingo”, perto de 80% dos clientes. “A esta hora estariam neste largo umas duas mil pessoas”, sublinha. Ontem à noite não estariam mais do que umas dezenas.

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“A esta hora estariam neste largo umas duas mil pessoas”, sublinha. Ontem à noite não estariam mais do que umas dezenas. ANDRÉ RODRIGUES

O dono do espaço foi obrigado a fazer contas à vida. Diz estar preocupado com o vírus e estar a tomar todas as precauções indicadas, mas está alarmado ao mesmo nível com os efeitos que a ameaça da covid-19 lhe trará para o negócio. “Mais umas semanas assim e não tenho dinheiro para pagar as contas nem os ordenados dos funcionários”, atira. Perdeu clientes à noite, mas também de tarde. Quem ali vai durante o dia diz passar apenas para comprar tabaco e tomar café.

Discotecas encerradas e ensaios da tuna cancelados

Lá dentro está Raquel Quintas, que acabou o curso de Música no ano passado, mas continua a frequentar aquela zona, sobretudo à noite. Apesar de já não estar a estudar, continua a fazer parte de uma tuna, onde toca contrabaixo. Por uma questão de prevenção afirma terem sido cancelados os ensaios, pelo menos nos próximos tempos. Diz não ter deixado de “fazer a rotina habitual”, mas não abdica dos cuidados essenciais para se manter longe da possibilidade de uma infecção. Há muitos anos que frequenta as quartas-feiras académicas. Esta semana diz que o cenário é “desolador”.

Um pouco mais acima, mais perto do edifício da universidade, onde existe outra zona de bares, sobram apenas duas esplanadas montadas. À porta do Stephane Bar, onde se junta o curso de Marketing, só estão três pessoas. Uma delas é Tomás Ribeiro, um dos poucos estudantes que encontramos em Braga. Sem aulas, “grande parte” viajou para as suas terras de origem.

Toda aquela zona é também área de residência de estudantes deslocados. São poucas as janelas dos prédios que têm a luz ligada. Muitos dos apartamentos ficaram vazios nos últimos dias, por força de um regresso a casa de muitos dos estudantes. Tomás Ribeiro justifica assim a ausência de muitos dos estudantes. Por isso considera esta quarta-feira uma noite atípica. Acredita que o fecho de três das discotecas mais procuradas nas noites de quarta-feira também contribuiu para isso  o Sardinha Biba, o KeimÒdrumo? e o BA - Bar Académico tinham anunciado um dia antes um encerramento temporário por uma questão de prevenção.

Duas portas mais acima está o Black Sheep, “casa” dos cursos de Contabilidade e de Línguas. Carlos Eduardo, que tomou conta do negócio há um ano, diz não ter visto estudantes durante a noite toda, enquanto serve uma cerveja ao único cliente que entra dentro do espaço naquela altura. A cerveja que serve é para um cliente “habitual”, mas “local”. Não se lembra de uma noite assim e por isso diz estar “mais preocupado com o negócio do que com o vírus”. Mais duas semanas e terá de fazer uma ginástica extra para pagar as contas.

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A cerveja que serve é para um cliente “habitual”, mas “local”. ANDRÉ RODRIGUES

Fazer a festa em casa

Entre as duas zonas de bares mais procuradas pelos estudantes encontramos um grupo de caloiros – o único que conseguimos identificar pela indumentária usada. Lídia Sousa, de Paços de Ferreira, decidiu ficar por Braga apesar de não poder frequentar as aulas. Na UM, há vários alunos que estão de quarentena. Não é o seu caso, nem o dos colegas, e por isso, como é habitual, saiu à rua esta quarta-feira à noite. Não o faz sem desinfectante e sem tomar as precauções devidas, conta. Mas desta vez não vai estar fora de portas durante muito tempo. Pouco passa da meia-noite e, por força do encerramento das discotecas que ficam abertas até de manhã, vai continuar a festa com o grupo na casa de um dos seus colegas.

Mais longe do campus universitário, já no centro, junto à Sé, para onde há cerca de uma década se transferiu parte da noite de Braga, os bares já estão a fechar as portas, apesar de o horário de encerramento de grande parte deles estar marcado para as 2h. 

Encontramos um aberto, o Subura, na Rua Dom Frei Caetano Brandão. Já longe do ambiente académico, dizem-nos os proprietários ainda não terem sentido os efeitos do novo coronavírus. O seu público é outro. Manuel Sampaio e Dida, como é conhecida por toda a gente, dizem-nos ter uma “clientela fiel e habitual”, que à excepção de “um ou outro” não deixaram de aparecer. No entanto, acham estranho os outros bares das imediações já terem encerrado, antes da 1h, ainda que considerem esta época “mais fraca”. Dida diz ter existido um decréscimo de clientes estrangeiros, “principalmente galegos”. Manuel não tem a certeza se isso está relacionado com o novo coronavírus ou se é por estar em época baixa. Porém, tem uma certeza. O encerramento da Semana Santa vai causar danos colaterais para os comerciantes: “Nesta época a Semana Santa funciona como um balão de oxigénio para nós”.

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