Coronavírus: metade das instituições de ensino superior sem aulas
Só as actividades presenciais estão suspensas na maioria das universidades e politécnicos. E-learning é aposta para não prejudicar alunos.
Há 15 instituições de ensino superior públicas onde não há aulas presenciais por causa da covid-19. É metade das universidades e politécnicos públicos e o número pode subir nas próximas horas. No entanto, apenas três faculdades estão efectivamente encerradas, o que aconteceu sempre por decisão das autoridades de saúde. Os responsáveis do sector garantem que estão a seguir as determinações do Conselho Nacional de Saúde Pública.
As universidades e politécnicos não podem encerrar por motivos de saúde pública sem que a decisão seja justificada por uma autoridade sanitária. No fim-de-semana, a Administração Regional de Saúde do Norte determinou o fecho da Faculdade de Farmácia e o Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, ambos da Universidade do Porto, e do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Minho, depois de terem sido confirmados dois casos de covid-19 entre estudantes. O mesmo aconteceu na Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo do Porto, onde foi confirmada a infecção de um professor.
As restantes instituições permanecem formalmente abertas, tendo decidido suspender as aulas presenciais. Também o atendimento aos alunos está a ser feito à distância, através de plataformas informáticas, correio electrónico ou telefone. Estas são “medidas de contenção”, tal qual pediu o Conselho Nacional de Saúde Pública, justifica o presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos, Pedro Dominguinhos, garantindo que nenhuma instituição encerrou sem conhecimento das autoridades.
As aulas foram suspensas nas universidades do Minho, Trás-os-Montes e Alto Douro, Porto, Aveiro, Coimbra, Lisboa, Nova de Lisboa, Évora e Algarve -- as três últimas com efeitos a partir de segunda-feira. Também os institutos politécnicos do Cávado e do Ave, Porto, Santarém, Castelo Branco, Viseu e Setúbal estão sem actividades lectivas presenciais. São 15 das 28 instituições de ensino superior públicas. Os responsáveis admitem que o número pode subir nas próximas horas.
A estes juntam-se ainda instituições privadas como as universidades Católica, Lusíadas e Lusófona. Todas as instituições de ensino superior das áreas da saúde, incluindo as faculdades de Medicina, têm também as aulas suspensas como medida de precaução. As restantes instituições aplicaram medidas menos severas que passam pelo cancelamento de actividades públicas como congressos e conferências.
“Alarme social”
Nem todas as instituições de ensino superior basearam a sua decisão em motivos de saúde pública. A Universidade do Porto resistiu à decisão de suspensão das aulas, considerando não haver razões sanitárias para tal. “Contudo, face ao rápido evoluir da situação e dado o clima crescente de dúvida e alarme social instalado que inviabiliza o normal prosseguimento das actividades lectivas” acabou por determinar, esta quarta-feira, a suspensão das aulas presenciais.
O reitor da Universidade do Porto, António Sousa Pereira, que é médico, temeu pela segurança interna da instituição. Ao longo do dia, houve episódios de ameaças e violência dirigidas contra alunos de Felgueiras de Lousada, que estão no epicentro do maior surto da covid-19 no país. Na véspera, o presidente da câmara de Felgueiras já tinha falado em episódios “discriminação e intolerância” dirigida a habitantes do concelho.
Na Universidade do Porto houve também, ao longo dos últimos dias, casos de professores que acabaram por enviar para salas de isolamento alunos sem qualquer tipo de sintomatologia associada à doença e os serviços da instituição receberam vários contactos enfurecidos de alunos e pais exigindo a suspensão das aulas.
É também por causa do “alarme social” que a doença está a provocar nas comunidades educativas que os presidentes das duas associações de directores de escolas públicas defendem o encerramento generalizado dos estabelecimentos de ensino não superior, criticando a posição tomada esta quinta-feira pelo Conselho Nacional de Saúde Pública.
As instituições de ensino superior onde as aulas presenciais estão suspensas têm “reforçado o ensino à distância”, explica o presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos, Pedro Dominguinhos. Os professores estão a “preparar materiais e a usar as plataformas de e-learning”, conta, para que os alunos possam continuar as suas formações.
A Universidade de Lisboa anunciou esta quinta-feira que 1500 alunos participaram nas aulas do curso de Medicina por videoconferência durante o dia de quarta-feira. As aulas ficaram gravadas e à disposição os alunos para que todos possam assistir.
Noutras instituições, os docentes estão também a adaptar as metodologias de avaliação, transformando, por exemplo, testes em ensaios escritos, que podem ser feitos a partir de casa.