Silêncio q.b. e emissões zero: autocarros eléctricos chegam a Lisboa
A carreira 706 é a primeira da Carris a receber os novos veículos eléctricos. Presidente da empresa e autarca lisboeta dizem que este é o primeiro passo para a completa electrificação da frota. Em 2021 devem chegar mais 30 destes autocarros.
A Carris escolheu o dia mais quente do ano até ao momento para lançar oficialmente a sua nova frota de autocarros eléctricos. Resultado? Uma das badaladas vantagens destes veículos – o silêncio – foi ultrapassada pela comodidade do ar condicionado e, a bordo da carreira 706, mal deu para comprovar a quase ausência de ruído.
Mas ela existe, de facto, como demonstraram os breves minutos em que o sistema de refrigeração foi desligado para precisamente mostrar à comitiva que os novos autocarros são sítios tranquilos. Pelo menos se andarem vazios, o que é muito pouco provável numa carreira como a 706, que do Cais do Sodré a Santa Apolónia (e vice-versa) percorre o miolo de Lisboa.
Esta é a primeira linha da Carris a ser contemplada com os novos veículos movidos exclusivamente a energia eléctrica. Eles já andavam por aí em testes pelo menos desde Dezembro, mas esta quarta-feira foi dia de lançamento com discursos, passeio e beberete. “Este é o momento irreversível em que a Carris electrifica a sua frota”, declarou Tiago Farias, presidente da empresa.
A transportadora lisboeta quer chegar a 2030 sem autocarros a gasóleo e a 2040 com uma frota 100% eléctrica. “Espero que um dia façamos uma cerimónia a celebrar o fim dos autocarros movidos a combustíveis fósseis”, disse Tiago Farias, apontando que “por cada quilómetro percorrido por um autocarro eléctrico deixam de ser emitidos 1,5kg de dióxido de carbono” para a atmosfera. No caso da 706, uma carreira com sensivelmente 18 quilómetros em ida e volta, são 27 os quilos de CO2 não emitidos. Além disso, também as emissões de óxido de azoto (NOx) e de partículas finas são evitadas.
“Esta mudança, de um sistema assente no carbono para um sistema assente no eléctrico, é essencial”, afirmou Fernando Medina, presidente da Câmara de Lisboa, que em 2017 tomou as rédeas da Carris. O autarca destacou o simbolismo do momento para a empresa, mas também para quem a ela recorre diariamente. “Autocarros com menos ruído, com menos poluição e mais conforto são capazes de gerar bom ambiente para quem os usa e para os trabalhadores”, disse, advogando que os novos veículos trazem consigo “uma mudança importante da percepção e da imagem do transporte público em Lisboa”.
De um lote de 15 autocarros eléctricos que a Carris encomendou à CaetanoBus, 11 já chegaram e vão estar ao serviço da 706. Os quatro veículos que ainda estão para vir têm como destino o futuro shuttle Marquês de Pombal – Praça do Comércio, que a câmara vai criar quando implementar a nova Zona de Emissões Reduzidas da Baixa. Para 2021 está agendada nova fornada destes veículos – mais 30.
Para já os autocarros só podem ser abastecidos na estação da Pontinha, onde estão montados 15 carregadores. Cada carregamento, que é feito durante a noite, dá para cerca de 180 quilómetros. Segundo contas de Tiago Farias, o abastecimento de um autocarro eléctrico custa à volta de 25 euros por dia, enquanto o de um a diesel pode ultrapassar os 120 euros. “O custo por quilómetro é francamente mais baixo”, nota o presidente da Carris.
“O transporte público não é para quem não consegue mover-se em transporte individual. Tem de ser um direito para todos os que se querem mover de forma rápida e com qualidade”, defendeu Fernando Medina, acrescentando que “todos os que utilizarem os novos autocarros vão notar uma enorme diferença”.
Enorme, enorme, talvez não tanto. O novo autocarro é um autocarro: tem rodas, cadeiras e janelas. Tal como os outros que a Carris recebeu no último ano e meio, traz um carregador USB e um painel electrónico de informação (que, por ora, nada informa). A diferença que mais salta à vista é um carreirinho de luzes azuis no tecto e, claro, o silêncio. Assim permita o ar condicionado.