Até ver, o Festival de Cannes continua de pé, apesar do novo coronavírus
Organização não cancela o evento, à revelia da ordem do Eliseu para proibir eventos com mil pessoas ou mais. Conferência de imprensa para anunciar alinhamento está marcada para 16 de Abril.
Apesar do crescendo visível da preocupação em torno do novo coronavírus (um pouco por todo o mundo, há países a apertarem a malha de medidas de contenção e, nos cenários de transmissão alargada, a imporem restrições à mobilidade, o cancelamento de eventos de massas e o encerramento de teatros e outras salas de espectáculos), a organização do Festival de Cinema de Cannes não fala, para já, em cancelamento.
“Mantemo-nos razoavelmente optimistas, na esperança de que se atinja o pico da epidemia no final de Março e de que respiremos um pouco melhor em Abril”, disse ao jornal francês Le Figaro Pierre Lescure, o presidente deste festival que é um dos mais importantes palcos internacionais da indústria do cinema. “Mas não estamos desatentos — se isto não acontecer, cancelamos.”
No domingo, o Governo francês proibiu as actividades que impliquem a reunião num mesmo recinto de mil pessoas ou mais. O maior espaço de exibição do Palácio do Festival, a Sala Lumière, tem 2300 lugares.
Lescure só irá ponderar o cancelamento da edição deste ano, que tem um orçamento de 32 milhões de euros, entre fundos públicos e privados, se o surto da Covid-19 piorar.
O festival, por onde deverão passar 40 mil pessoas, tem abertura marcada para 12 de Maio e a conferência de imprensa destinada a divulgar os filmes a concurso nas diversas secções e também os títulos fora de competição está agendada para 16 de Abril.
De acordo com a revista Variety, a organização de Cannes perdeu a oportunidade de reforçar o seguro do festival há duas semanas, ao recusar uma proposta da Circle Group, a sua seguradora, para renegociar a apólice de forma a que esta passasse a cobrir epidemias e pandemias. A empresa propunha que o festival optasse por pagar mais 6% do valor total já acordado.
Lescure recusou, justificando que aquilo que a Circle Group oferecia cobria apenas dois milhões de euros de um orçamento de mais de 30 milhões, ou seja, cerca de 5% dos custos totais do festival. “Na realidade, eram umas migalhas. A empresa estava a brincar aos caçadores de recompensas e nós, naturalmente, declinámos a proposta”, disse o presidente do festival, aqui citado pelo Figaro.
Pierre Lescure adiantou ainda, segundo a Variety, que Cannes dispõe de um fundo com “reservas” caso a edição venha a ser cancelada. Estas “reservas” cobrem pelo menos um ano sem qualquer receita.
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