Dieta vegan: Afinal, o que custa não é começar

Um mês a seguir uma alimentação exclusivamente vegan. Sem mudar rotinas de treino e acompanhada por um nutricionista. Efeitos no corpo e na mente? Como ajustamos o nosso comportamento, alimentar e social? É o que vou contar nas próximas quatro semanas.

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Quando recebi a pré-visualização do e-mail da editora da Ímpar para escrever este texto, estava a trincar um ovo cozido. Não é exagero se disser que quase me engasguei: teria de começar… De imediato! Se bem pensei, depressa o fiz: fui oferecer aos colegas os restantes ovos cozidos que tenho no frigorífico do escritório — são os meus snacks entre refeições. Nesse dia, ao almoço, estava safa: chili vegan, feito por mim!

Deixem apresentar-me, em termos de alimentação: sou flexitariana. A minha alimentação é maioritariamente de origem biológica e uns 80% vegetariana. Consumo ovos todos os dias (para aporte proteico), peixe duas vezes por semana, carne esporadicamente. Faço jejuns duas a três vezes por ano: três dias a sumos fortificados com proteína vegan… Preparo quase todos os meus almoços da semana ao domingo e sou a verdadeira ‘marmiteira’, sempre carregada de frascos e caixinhas de vidro. Acontece tanto elogiarem a apresentação da minha comida como me perguntarem “que diabo é essa cena verde?”.

Chili vegan, logo, sem carne Rita Machado
Um prato que se pode fazer no início da semana e ir comendo Rita Machado
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Chili vegan, logo, sem carne Rita Machado

Frente a uma feijoada à brasileira com entrecosto no forno (uma das especialidades que cozinho) ou perante o novo menu A História – são 17 pratos – do 100 Maneiras (a última ceia que comi fora de casa), não consigo dizer ‘Não!’. “Restrições”, perguntam? “Não tenho”, respondo, não querendo perder pitada, apesar de ter identificadas por análise de sangue intolerâncias alimentares à lactose e à proteína do leite, à baunilha e às hortaliças brássicas. Sou seguida pelo nutricionista Sérgio Veloso, que reintroduziu as couves na minha alimentação. A pedido, tenho no meu plano alimentar opções veganas: substitui-se o peixe e a carne por leguminosas, e nessa refeição como menos quantidade de arroz ou batata. No plano nutricional que me prescreve, a cada dois meses, não há recomendação de tofu ou seitan, mas acabo por comê-los algumas vezes.

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Um frigorífico apetrechado para fazer uma dieta vegan Rita Machado

Adoro, simplesmente adoro, comer e parte do meu dia é passado a pensar no que vou cozinhar. De manhã e ao almoço cumpro o plano, ao jantar… tem dias! Passo a semana a tentar controlar o que ingiro, e o fim-de-semana em indulgência. Eu chamo-lhe equilíbrio, mas aceito que haja outras interpretações. Para mim funciona. Tenho mais de 40 anos e estou num rácio de massa corporal saudável. Há anos que me interesso por alimentação e exercício e já experimentei muita coisa. Curiosamente nunca tinha estado exclusivamente vegana.

No final de 2019 o documentário The Game Changers ocupou as discussões masculinas e femininas nos balneários: como assim, o Arnold Schwarzenegger, ex-Mr. Olympia, agora é vegan? Os gladiadores do Império Romano, bem antes de Cristo, eram predominantemente vegetarianos? É possível ser um atleta de elite e comer apenas vegan? Ao meu lado na padaria, quer dizer, na Bakery Crossfit, onde treino, o coach Eduardo Arruda é vegan e o seu PR (jargão da modalidade: recorde pessoal) não fica nada atrás de outros treinadores que conheço: em deadlift levanta 175 kg; em back squat, 155 kg; e em front squat, 125. Nada mau para quem tem uma alimentação exclusivamente vegana há mais de dois anos, após seis meses de transição num regime ovo lácteo vegetariano e dois anos sem consumir carne.

O mote está dado e eu também quero experimentar! Não quero tornar-me 100% vegana – acho que ficou claro nos parágrafos anteriores o quanto gosto de comer! –, mas quero ver como reajo, física e emocionalmente. Já agora, contribuir para a sustentabilidade do planeta, fazendo as escolhas mais ajustadas à realidade actual. E reportar os efeitos para os leitores e as leitoras do PÚBLICO.

Rita Machado, @ritamachado33

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