Portugal... e agora?
Para o primeiro-ministro, António Costa, ontem na abertura da conferência de comemoração dos 30 anos de aniversário do PÚBLICO, o tema e o enunciado que foram feitos para o evento dão “assim um pouco a ideia [de] que ou cumprimos já o nosso destino, ou que vivemos numa situação dilemática, sem saber o que vamos fazer, ou pior, que não temos para onde ir”.
O enunciado era intencionalmente provocador e sem querer fechar qualquer possível pista de reflexão, resumia a ideia de que “após uma ‘década perdida’ por causa da estagnação económica e dificuldades financeiras, Portugal foi capaz de resistir a um processo de ajustamento e ganhar músculo para recuperar”. Para nós, “o país está numa fase de transição entre o passado duro e um futuro mais esperançoso”, e a questão que ficava é que “caminhos vai querer trilhar”.
Das três hipóteses que António Costa colocava, só a segunda, mesmo que não inteiramente, estava sintonizada com o espírito da conferência. E o primeiro-ministro deu a sua resposta: “Nós não cumprimos ainda o nosso destino e por isso a primeira coisa que temos de fazer é algo que eu presumo que seja bastante monótono, que é continuar o nosso caminho. Continuar a fazer aquilo que temos vindo a fazer.”
Ao longo da sua locução, António Costa enumerou com clareza algumas das apostas do seu executivo e alguns dos problemas estratégicos que quer enfrentar, mas ficou sempre no ar aquela pequena irritação inicial de quem, já no seu segundo mandato à frente dos destinos de Portugal, ainda vê que há muita gente que ainda se interroga sobre qual é claramente o caminho que pretende continuar a prosseguir.
Há uma parte deste incómodo que se percebe. Afinal, a questão fez certamente mais sentido quando Portugal saiu do período de resgate financeiro ou até quando Costa iniciou o seu primeiro mandato.
No entanto, a pergunta continua pertinente. É que a dúvida maior não está tanto na resposta que, concorde-se ou não, tem vindo a ser dada mas nas condições objectivas para a cumprir. Um problema como o do Montijo mostra que há boas razões para a interrogação geral.
Afinal, continuamos a ser um país que ao fim de mais de cinco décadas não conseguiu assentar numa localização para uma infra-estrutura essencial, governado por um Governo que, nem à direita, nem à esquerda, consegue consenso para arrancar com a obra. Mesmo desanimante, nesta ideia de que estamos sempre a voltar ao princípio, há, infelizmente, coisas a mais que nos continuam a empurrar para o irritante “... e agora”?