Do cancelamento à porta fechada: como o desporto tenta escapar ao coronavírus
Em ano de Jogos Olímpicos e Europeu de futebol, os riscos de contágio ameaçam a realização de dois dos maiores eventos desportivos mundiais. Por cá, não haverá Estoril Open sem público.
A solução encontrada pelos agentes desportivos, um pouco por todo o mundo, para lidar com o novo coronavírus (Covid-19) tem sido cancelar competições, adiar a sua realização ou aceitar que ocorram mas sem público a assistir. Nos últimos dias têm sido muitos os exemplos. Na China foram várias as provas suspensas, desde a Liga de futebol até ao Mundial de esqui alpino. Já os dois primeiros Grande Prémios do Mundial de MotoGP, no Qatar e na Tailândia, foram ambos adiados. E, nesta terça-feira, ficou a saber-se que pelo menos um jogo da Liga dos Campeões (Valência-Atalanta) e outro da Liga Europa (Getafe-Inter Milão) serão à porta fechada.
Por cá, o Estoril Open, com início agendado para o dia 25 e Abril, é um dos grandes eventos desportivos do ano. Para já, João Zilhão, director da prova, disse ao PÚBLICO que a organização do único torneio ATP que se disputa em Portugal está “a acompanhar de perto a evolução da situação”, mantendo ainda a comunicação com o ATP Tour e a sua unidade de Medicina e Segurança.
Para já, a hipótese de adiar o torneio “não foi ponderada” nem é viável, uma vez que “existem eventos do ATP todas as semanas” e “o calendário está completo até Novembro”. Quanto à possibilidade de realizar a prova sem público nas bancadas, João Zilhão diz que não lhe parece que seja uma hipótese viável “jogar um evento do ATP com as bancadas vazias”.
Decisão sobre Jogos em Junho
Esperar para ver é também a atitude do Comité Olímpico Internacional (COI) no que diz respeito aos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020. Após a reunião de ontem da sua comissão executiva, Thomas Bach, presidente do COI, anunciou o adiamento para Junho de uma decisão definitiva sobre a realização ou não dos Jogos, agendados para o período entre 24 de Julho e 9 de Agosto, no Japão. A afirmação é do presidente do Comité Olímpico Internacional que, apesar da incerteza existente neste momento, espera uns Jogos “bem-sucedidos”.
O COI lembra que foi criado um grupo de trabalho que junta membros do comité ao Comité Organizador, a autarquia de Tóquio, o governo japonês e a Organização Mundial de Saúde (OMS) e encoraja os atletas a “continuar a prepararem-se para Tóquio 2020”.
Bem menos convincente foi a ministra japonesa dos Jogos Olímpicos. “Se lermos o contrato, constatamos que o artigo 66 estipula que o Comité Olímpico Internacional tem o direito de anular os Jogos, no caso de estes não serem organizados em 2020”, assumiu Seiko Hashimoto numa intervenção no Parlamento japonês, em que reforçou que Maio será a altura crucial para uma decisão definitiva.
A ministra dos Jogos Olímpicos ressalvou, contudo, que este artigo permite que os Jogos de Tóquio 2020 possam ser adiados para qualquer outra data durante este ano.
UEFA está confiante na realização do Euro 2020
“Optimista” está o presidente da UEFA, Aleksander Ceferin, no que diz respeito à organização do Europeu de futebol, prova que Portugal conquistou há quatro anos.
Ontem, o esloveno afirmou que o organismo que gere o futebol europeu mantém a perspectiva de que o surto com a Covid-19 não irá afectar a realização do Euro 2020, com início marcado para 12 de Junho e duração de um mês. “Vamos tentar ser optimistas”, disse Ceferin, na conferência de imprensa após o congresso da UEFA, em Amesterdão.
Questionado sobre se a UEFA tem uma data limite para decidir se avança para um eventual cancelamento do Europeu de futebol, Ceferin foi evasivo, optando por indicar as características inovadoras da competição, que decorrerá em 12 cidades de outros tantos países, existindo, por isso, preocupações de toda a ordem, desde os aspectos relacionados com a segurança, à instabilidade política e, agora, com o novo coronavírus.
Enquanto não se sabe o que vai suceder com estas duas grandes competições internacionais, o desporto vai tomando pequenas medidas para proteger os seus protagonistas. Ontem, por exemplo, no jogo da UEFA Youth League entre o Benfica e o Liverpool, os jogadores das duas equipas, bem como a equipa de arbitragem, cumprimentaram-se encostando os cotovelos em vez do corriqueiro “passou bem”.
Já nos EUA, a Liga Norte-americana de Basquetebol profissional (NBA) pediu aos jogadores para evitar darem o tradicional “high five” (cumprimento de mão) a adeptos e a estranhos, bem como autógrafos.