Podíamos ser mais felizes? Podíamos!

Bastava que todos quiséssemos abrir mão de nós próprios para pensar mais nos outros e enfeitássemos com flores a casa da vida, desde o dia em que nos abriram essa porta.

Abrem-nos a porta da vida no dia em que nascemos. Não imaginamos por que motivo viemos, o que nos espera, o mundo que nos rodeia. Somos tão puros e frágeis, tão imaculados e ternos quanto um dia azul de primavera.

As pessoas são lindas. São lindas quando nascem.

Porém, vamos crescendo. A pureza desvanece-se como uma aguarela onde cai a chuva de outono. A essência endurece, congelada pela sociedade invernosa. A ternura esfumaça-se, queimada pelo ódio, pela raiva, pela violência.

Esquecemo-nos de nós. Somos empurrados para uma roda gigante que roda, roda sem piedade, machucando-nos no turbilhão das horas, magoando-nos na escalada dos minutos, cegando-nos no rodopio dos segundos. Pudéssemos ser dias azuis de primavera todos os dias... sentir, partilhar, compreender por que motivo viemos e fazer disso uma missão maior. O sofrimento a que a vida nos sujeita não tem de nos tornar amargos. Sofremos, sim... e alguns não conhecem nada mais do que isso na vida. Mas só a viverão uma vez, porque não teremos outra oportunidade para nascer. Tatear a vida, receber dela para dela receber. Quanto mais felizes conseguirmos fazer os outros, mais felizes conseguiremos ser. Mesmo que não se veja. Mesmo que não seja imediato. Mesmo que possa não parecer. Seríamos todos tão mais sorridentes... E a nossa existência teria tão mais sentido...

Podíamos ser mais felizes? Podíamos. Bastava que todos quiséssemos abrir mão de nós próprios para pensar mais nos outros e enfeitássemos com flores a casa da vida, desde o dia em que nos abriram essa porta.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico

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