Drones que transportam medicamentos e análises de sangue, que mantêm a temperatura e humidade estabilizadas e que alcançam o destino em 15 minutos: esta é a proposta da Connect Robotics. A start-up nasceu na Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) há cinco anos; actualmente, mantém-se sediada no Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC) e tem o apoio da ESA BIC Portugal, da FIWARE e da Building Global Innovators.
Eduardo Mendes, CEO da Connect Robotics, explica ao P3 que, inicialmente, o projecto de automação de drones foi pensado para o mercado da logística. No entanto, as primeiras demonstrações chamaram a atenção de farmácias, hospitais e clínicas, que entraram em contacto com a empresa, fazendo-os ver que a área da saúde é a que “tem a maior urgência e a maior necessidade” destes equipamentos.
Actualmente, 30% das farmácias em Portugal estão em insolvência, continua Eduardo Mendes. “As pessoas deslocam-se para as cidades e as farmácias do interior não têm clientes para atender, nem conseguem atender os que têm; a regulamentação em Portugal exige que seja um farmacêutico a fazer as entregas dos medicamentos e no interior isso pode ser um problema, porque implica fazer viagens longas pelo monte.” Para resolver este problema, a empresa conseguiu a autorização da ANAC (Autoridade Nacional da Aviação Civil) e do Infarmed (Autoridade Nacional do Medicamento e Produtos de Saúde) e reduz o tempo destas entregas de uma hora para apenas 7 minutos – e “sem emissões de carbono, nem risco de acidentes”.
A Farmácia da Lajeosa, em Tondela, foi a primeira a estabelecer uma parceria com a Connect Robotics, em 2018. Fazem entregas regulares de medicamentos a vários lares de idosos e a instituições; agora, as entregas são feitas por drone e a posologia é explicada pelo farmacêutico por videochamada.
O drone fica disponível na farmácia e o cliente paga a mensalidade, que inclui o aparelho, a manutenção, o serviço, o acesso ao sistema e o seguro. Eduardo Mendes esclarece que o utilizador só tem de escolher o cliente (dos que estão previamente inseridos) e “o sistema gere o plano de voo, envia mensagem para o receptor aprovar, verifica as condições meteorológicas para ver se estão dentro dos limites daquele drone específico, levanta voo e deixa a caixa no receptor”. O operador na farmácia pode ver tudo em tempo real na aplicação e, até, anular a entrega se houver problemas.
O empresário adianta que vão disponibilizar em breve os resultados estatísticos deste projecto-piloto ao Infarmed, com o objectivo de obter autorização para mais farmácias. Em 2018, ao vencerem o prémio João Cordeiro — na área da inovação de farmácia — chamaram a atenção da Associação Nacional das Farmácias e começaram a receber cada vez mais contactos de interessados; agora, desenvolvido e testado o aparelho, só faltam mesmo as autorizações.
Paralelamente, a empresa está a trabalhar numa parceria com um hospital de Lisboa para fazer o transporte de análises clínicas. “Este hospital não tem volume suficiente para ter um laboratório lá dentro, então junta as amostras e contrata um estafeta para as ir entregar”, diz. No entanto, no caso de quimioterapia, as análises são obrigatórias e realizadas no próprio dia, para se saber se o paciente reúne condições para fazer o tratamento ou não.
Assim, o paciente fica até “quatro horas à espera no hospital” – e pode acabar por nem ter capacidade para fazer o tratamento e ter de regressar no dia seguinte. Estes drones podem diminuir o tempo de espera, entregando as análises em apenas alguns minutos. Tal será possível quando (ou se) for concedida a autorização para o dispositivo circular no espaço aéreo controlado pelo Aeroporto de Lisboa.
A start-up está integrada no projecto TechNorValue (uma parceria da UPTEC com a Porto Business School) e foi apresentada na sessão final de 20 de Fevereiro. A Connect Robotics é uma das três start-ups seleccionadas, juntamente com a AddVolt e a Pavnext.