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O último adeus a Vasco Pulido Valente

Amigos, familiares e figuras públicas despediram-se esta segunda-feira de Vasco Pulido Valente, ao início da tarde, em Alcabideche.

A viúva do ensaísta, Margarida Bentes Penedo, deputada do CDS na Assembleia Municipal de Lisboa Daniel Rocha
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A viúva do ensaísta, Margarida Bentes Penedo, deputada do CDS na Assembleia Municipal de Lisboa Daniel Rocha

Aproxima-se a hora, e não se contam muito mais do que duas dezenas de carros no parque de estacionamento do Centro Funerário de Cascais. Os que se querem despedir de Vasco Pulido Valente, historiador, jornalista, colunista do PÚBLICO, a cremar às 14h, estão no interior, e cá fora, ao sol de Inverno na véspera de Carnaval, só se conta um punhado de jornalistas.

São cerca das 13h50, e o ex-ministro da Cultura José Pinto Ribeiro e o investigador em Relações Internacionais Carlos Gaspar são os primeiros a abandonar a cerimónia fúnebre, discretamente.

Minutos depois, segue-se Marcelo Rebelo de Sousa. Em evidente consternação, o actual Presidente da República não mede as palavras de lembrança sobre o falecido escritor. “Era de uma genialidade (…) que dele fazia, a meu ver, o melhor analista político e social português.” A razão era simples: “Tinha uma visão histórica”. O estilo, enaltece-lhe o Presidente, era “muito cortante, muito curto, muito incisivo”.

As críticas que Pulido Valente lhe apontou, numa proporção de 50 para um elogio, conforme tece, não travaram a admiração a Rebelo de Sousa: “Eram sempre coerentes, consistentes, pensadas e explicadas, fundamentalmente”.

Família e amigos do escritor começam a juntar-se fora do Centro Funerário. As palavras trocam-se, vagadas, encaixadas por compassos de espera, entre cigarros e abraços apertados.

Sai a deputada do CDS-PP Cecília Meireles, e logo em seguida o comentador Luís Marques Mendes, que primeiramente refere o privilégio de ter sido amigo de Pulido Valente. “O Vasco era uma pessoa genial, em todos os planos, tudo aquilo que fazia.” A vertente de conselheiro político também lha enalteceu, da qual o próprio Marques Mendes diz ter beneficiado – “só posso estar grato”.

O “escrever primorosamente bem e ter uma cultura enciclopédica” aliava-se a ser “completamente livre, mordaz, assertivo, acutilante”, um pensamento “diferente” que “nos obrigava a pensar diferente”, dissertou o comentador, sobre “um cronista carismático”, que “vai fazer-nos muita falta”.

Um carro fúnebre bate em retirada às 14h20, hora a que faseadamente já muitos dos presentes retornam aos seus carros. Francisco Rodrigues dos Santos, novo presidente do CDS-PP, distribui os respeitos pelos presentes que encontra no exterior, e não se alonga nas palavras de luto pelo escritor “livre das convenções do politicamente correto, da necessidade geral de agradar a quem o lia, das amarras de quem esperava reconhecimento, ao ponto de nos fazer pensar”.

Pondera assertivamente que Pulido Valente “ficará gravado na memória coletiva do país como pensador notável e embaixador ímpar da língua portuguesa”. “Marcou o seu tempo, e fará certamente muita falta ao pensamento intelectual e cultural deste país.”

De rosa vermelha na mão, sai a viúva do ensaísta, Margarida Bentes Penedo, deputada do CDS na Assembleia Municipal de Lisboa. Rodeada de caras amigas, é dos últimos presentes a abandonar o complexo fúnebre nos arredores de Alcabideche.

O historiador Rui Ramos refere, à saída, “um dos grandes intelectuais portugueses da segunda metade do séc. XX e das primeiras décadas deste século”. “Vamos reparar que tivemos a sorte de ser contemporâneos de alguém que nos ajudou a perceber muita coisa, que nos provocou, que nos fez sorrir, que nos irritou… e que nos fez pensar.”

Atenta para alguém que “permitiu manter-se na primeira linha da imprensa portuguesa (…) durante 40 anos”, uma “coisa espantosa”, num meio que “procura sempre algo que é novo, [que] passa ao próximo”.

Meia hora antes, demarcando-lhe a “independência absoluta, total”, Marcelo Rebelo de Sousa volvia aos tempos em que Vasco Pulido Valente trabalhara no semanário Expresso, quando o agora Presidente lá era director. Quase embargado, recordou a capacidade sintética do escritor, que “conseguia, em dez, 12 linhas, dizer tudo o que era essencial”, algo que tantos outros tentaram, mas que “só Vasco Pulido Valente conseguia fazer”.

Em tantas presenças na imprensa nacional, desde a extinta revista académica Quadrante, passando pelo também desaparecido O Independente, pelo Diário de Notícias e Observador, dando cara na TVI, e terminando em cerca de dez anos no PÚBLICO, era de todos mas não era de ninguém; “de uma independência absoluta, total”, como demarcava Rebelo de Sousa.

Eram de toda a semana as últimas pérolas que nos dava, sempre ao sábado. Pela segunda vez, este fim-de-semana, o PÚBLICO vai parecer ter uma página em branco, depois da sua morte na sexta-feira passada. Um branco colorido pela memória, sempre a gritar as suas palavras aguerridas, invictas de contemplação.

Mas para já, nesta segunda-feira, demos-lhe um último adeus.

Texto editado por Sónia Sapage

O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa elogiou a  "genialidade" que fazia de Vasco Pulido Valente "o melhor analista político e social português”
O Presidente Marcelo Rebelo de Sousa elogiou a "genialidade" que fazia de Vasco Pulido Valente "o melhor analista político e social português” Daniel Rocha
Luís Marques Mendes: "O Vasco era uma pessoa genial, em todos os planos, tudo aquilo que fazia"
Luís Marques Mendes: "O Vasco era uma pessoa genial, em todos os planos, tudo aquilo que fazia" Daniel Rocha
Ao centro, Margarida Bentes Penedo
Ao centro, Margarida Bentes Penedo Daniel Rocha
À frente, Margarida Bentes Penedo
À frente, Margarida Bentes Penedo Daniel Rocha