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2024: as imagens do ano pelos fotógrafos do PÚBLICO
A crise da habitação, as campanhas eleitorais, os incêndios, as noites tensas após a morte de Odair Moniz, os protagonistas que marcaram o ano e pequenos momentos do dia-a-dia — assim foi 2024 visto pela lente dos fotojornalistas do PÚBLICO.
“Por vezes, basta uma imagem para nos contar uma história ou para nos fazer reflectir”, resume o editor de fotografia do PÚBLICO Miguel Manso. É isso que procura quando tem de fazer escolhas, pesando o “valor estético e o conteúdo informativo” de cada imagem. Foi também esse o critério para escolher 65 fotografias que nos trazem outras tantas janelas para 2024.
As imagens trazem-nos histórias como a de Sónia, que vive no bairro ilegal da Penajóia, no Monte da Caparica, sem água. De dois irmãos que vivem isolados num quarto andar no centro de Lisboa. De Francisco Cunha Leal que, 50 anos depois do 25 de Abril, consultou pela primeira vez as suas fichas na PIDE, no Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Lágrimas, sorrisos, olhares desafiantes, punhos erguidos. Umas trazem rostos que quase toda gente conhece e outras caras desconhecidas, mas todas devem ter “a capacidade de nos prender e fazer querer saber mais sobre o que se está passar”, conclui Miguel Manso.
Para Nelson Garrido, captar o momento chave é também uma questão de “estar no local certo, na altura certa e ter capacidade de reacção”. Foi em plena campanha eleitoral das legislativas que apanhou um desses momentos, quando um activista da Greve Climática Estudantil lançou uma tinta verde sobre Luís Montenegro. “Dada a importância do momento decisivo, passou a ser a minha foto do ano”, conta.
Daniel Rocha também escolheu uma cena da política nacional: o adeus de António Costa a Marcelo Rebelo de Sousa, no último Conselho de Ministros do XXIII Governo. “Há oito anos, dois dias depois do 10 de Junho, chovia, mas abria-se um ciclo. Estávamos em Paris quando tudo se passou. Este ano, a 25 de Março, também lá estávamos. Sinal do fim de um ciclo. Sem chuva, mas com muitas nuvens.”
Nuno Ferreira Santos captou uma imagem que lhe marcou o ano logo em Janeiro, na greve da Global Media: “Mostra um dos grandes problemas que enfrentamos enquanto sociedade: a crise crescente dos media, em Portugal e no mundo. O jornalismo é um garante essencial da democracia, mas a evolução tecnológica e alguma desconsideração pela importância da informação baixou a fasquia”, considera.
Adriano Miranda, que provavelmente já perdeu a conta a quantas vezes fotografou incêndios florestais, encontrou um reflexo na imagem da mulher que descansa encostada à parede, de olhos fechados, nos fogos de Setembro: “O cansaço e do desespero. A metáfora de anos e anos da mesma tragédia”.
Rui Gaudêncio estava em reportagem no bairro ilegal da Penajóia, no Monte da Caparica, Almada, quando conheceu e fotografou Sónia. Uma das fotografias que escolheu tem como pano de fundo uma das crises do ano, a da habitação. “É difícil aceitar que nos dias de hoje existam pessoas que não conseguem ter rendimentos para viver numa casa com condições.” Sónia sai de casa às 4h30 da manhã para estar no trabalho às 7h00, em Cascais. Como o bairro não tem água canalizada tem de lavar a roupa num alguidar. E o bairro cresceu no último ano.
A fotografia da peça Há Qualquer Coisa Prestes a Acontecer, de Victor Hugo Pontes, é uma das imagens preferidas de 2024 de Paulo Pimenta. “Liberdade, luta, corpo, nudez, esforço, dança. Esta imagem marca-me pela sua expressão de liberdade, se fosse antes do 25 Abril de 1974 nunca aconteceria, nem fotografava um momento tão belo. Representa o privilégio de poder publicar num jornal que luta todos os dias pela democracia.”
Assim foi 2024 visto pela lente dos fotojornalistas do PÚBLICO.