Isabel Moreira e a honra do Parlamento
Sem querer entrar para já no debate sobre a eutanásia, começo antes por perguntar à deputada Isabel Moreira se acha que o Parlamento tem honra que possa ser perdida? Ou se acha que o Parlamento tem cumprido de forma honrada a sua missão? Por mim respondo já de forma negativa às duas questões.
A deputada do PS Isabel Moreira acaba de publicar um texto neste jornal crítico de um outro texto do deputado europeu Paulo Rangel sobre o tema da eutanásia. Para justificar a sua posição, Isabel Moreira termina o seu artigo com o seguinte: “Honremos o Parlamento. Mesmo quando queremos muito que uma lei seja chumbada. Não vale tudo.”
Sem querer entrar para já no debate sobre a eutanásia, começo antes por perguntar à deputada Isabel Moreira se acha que o Parlamento tem honra que possa ser perdida? Ou se acha que o Parlamento tem cumprido de forma honrada a sua missão? Por mim respondo já de forma negativa às duas questões e considero mesmo que as palavras de Isabel Moreira contrariam a realidade. Por exemplo, no caso do tema da eutanásia o Parlamento não tem condições para de forma honrada votar essa lei e desde já reivindico a realização do referendo. Sabe, confio mais nos portugueses do que na Assembleia da República.
Para exemplificar o meu raciocínio gostaria de perguntar à deputada Isabel Moreira se acha que está no Parlamento por força do seu mérito pessoal, ou simplesmente foi escolhida pelo Dr. António Costa por, provavelmente, ele considerar que ficava bem na lista do PS, sendo filha de quem é e porque seria da sua confiança pessoal. Ou achará a senhora deputada que os portugueses tiveram alguma coisa a ver com a sua eleição? Se pensa isso desengane-se. A senhora, tal como eu há anos, fomos votados numa lista que os eleitores não podem escolher ou alterar, querem gostem de nós ou nos detestem.
Claro que esta não é a única razão porque o Parlamento não é uma instituição honrada e a generalidade dos portugueses sabe-o bem. Por exemplo, a Assembleia da República não fiscaliza, como devia, os actos dos governos e aí entram os milhares de milhões de euros perdidos no sistema financeiro, as obras públicas erradas – excesso de auto-estradas e abandono da ferrovia –, parcerias público-privadas e, acima de tudo, temos um Parlamento que convive muito bem com a corrupção e que considera que a ética não diz respeito aos deputados nem, já agora, à própria Comissão de Ética.
E por falar de obras públicas, nem mesmo o Governo do PS liga muito ao Parlamento. Por exemplo, estou a ler uma notícia fresca de que o Governo assinou no sábado passado – muito trabalha este Governo – um contrato para a construção do Metro Circular em Lisboa que os deputados chumbaram dias antes. Além disso, o primeiro-ministro prometeu várias vezes levar à Assembleia da República as obras públicas para aprovação por uma maioria qualificada e, veja lá, acabou por considerar que era melhor não o fazer. Os deputados, a senhora incluída, só empatariam.
A senhora deputada, tenho a certeza, também sabe que aquela coisa da democracia do povo para o povo não entra no que chamam a casa da democracia. Será assim, mas apenas nos países onde o povo escolhe, ou rejeita, os deputados um a um.
Chegado aqui, não sei se recentemente a senhora deputada votou o pedido de uma pequena parte do povo, uns milhares de assinaturas que vos foram enviadas com uma proposta para alterar a lei eleitoral. Claro, eu sei! Não faz grande diferença, porque as promessas do PS sobre o assunto são velhas de muitos anos e promessas leva-as o vento.