Tottenham de pólvora seca procura armas alternativas
Londrinos perderam em casa com o RB Leipzig e têm apuramento em risco na Champions. Atalanta impôs goleada ao Valência.
Por estes dias, quando José Mourinho reúne a informação da semana de treinos para escolher o “onze” inicial, sabe que tem a missão facilitada no que diz respeito à posição nove. Pelas piores razões. A escassez de soluções é gritante e, à medida que vai perdendo peças determinantes do xadrez, o Tottenham é obrigado a reinventar-se. Nesta quarta-feira, não passou de uma sombra da equipa que na época passada chegou à final da Liga dos Campeões e comprometeu, inclusive, a passagem aos quartos-de-final, com uma derrota em Londres, diante do RB Leipzig (0-1).
Primeiro Harry Kane, agora Son Heung-Min. O Tottenham sofre, e de que maneira, com a ausência por lesão das duas maiores referências ofensivas do plantel (e dois dos avançados mais capazes de Inglaterra). Para minimizar o problema, Mourinho desenhou um 4x2x3x1 com Lucas Moura na frente, secundado por Dele Alli, Bergwijn e Lo Celso, apresentando Winks e Gedson como médios mais posicionais.
Sem grande potencial para esticarem o jogo, os “spurs” tentaram ligar por dentro, mas o 3x4x3 do RB Leipzig significou, muitas vezes, supremacia na zona central e maior capacidade para anular as investidas britânicas. De resto, foram os alemães a criarem as melhores ocasiões, durante uns minutos iniciais asfixiantes: Timo Werner, já na pequena área, viu Lloris negar-lhe o golo, já depois de o guarda-redes francês ter impedido, com a ajuda do poste direito, que um outro remate da direita terminasse nas redes.
O maior assédio alemão só renderia frutos, porém, no segundo tempo. Konrad Laimer surgiu a atacar os espaço nas costas dos centrais e foi alvo de uma falta grosseira do experiente Ben Davies. Grande penalidade que Timo Werner, aos 58’, aproveitou da melhor forma.
O versátil avançado do RB Leipzig dava à equipa tudo o que Dele Alli, do lado contrário, não conseguia: forte reacção à perda, ligação de costas para a baliza com os médios e capacidade de atacar a profundidade. Talvez por isso José Mourinho tenha substituído o talentoso criativo inglês (que nunca funcionou como verdadeiro apoio a Lucas Moura) por Erik Lamela, aos 64’. No mesmo minuto, saiu também Gedson e entrou Ndombélé.
A ideia era juntar Bergwijn e Moura no eixo do ataque, colocar Lamela num corredor lateral e aproximar Lo Celso de zonas de criação. E a verdade é que o Tottenham melhorou, chegou com mais frequência e qualidade ao último terço e esteve perto do empate, em dois livres directos (Lo Celso e Lamela), aos quais o guarda-redes Gulacsi respondeu com tremenda eficácia.
O jogo 150 de José Mourinho na Liga dos Campeões chegava mesmo ao fim com uma derrota que obriga os londrinos a vencerem em Leipzig, no dia 10 de Março, na segunda mão da eliminatória. Uma missão espinhosa, que terá de ser cumprida sem Son, que muito dificilmente recuperará tem tão pouco tempo da fractura que sofreu no braço direito.
Hateboer eleva Atalanta
Para a Atalanta, o sonho continua. A equipa italiana, que cumpre actualmente a época de estreia na Liga dos Campeões, já tinha atingido o primeiro objectivo, que era a passagem da fase de grupos, e deu agora um passo de gigante para superar a segunda barreira. Em casa, aplicou uma goleada ao Valência (4-1) que vem apenas confirmar o grande momento de forma que atravessa.
É evidente que o jogo desta quarta-feira, em San Siro (casa emprestada para efeitos de participação europeia), ficará na memória de jogadores e adeptos da Atalanta pelas melhores razões, mas há um futebolista que tem particulares razões para sorrir. Lateral direito de raiz, Hans Hateboer actuou como ala e esteve muito participativo nas acções ofensivas. De tal modo que o holandês de 26 anos apontou dois golos, os primeiros de toda a carreira na Champions — carreira, essa, que só começou nesta época, também.
Foram o primeiro e o quarto da Atalanta (16’ e 62’), mas foram os outros dois que mereceram maior nota artística: Ilicic desferiu um remate seco à entrada da área (42’) e Freuler bateu em arco, também de fora da área, levando a bola a entrar ao segundo poste (57’). Uma afirmação tremenda de força de uma equipa tacticamente evoluída e com dedo do treinador, Gian Piero Gasperini.
O melhor que o Valência conseguiu foi reduzir a dimensão dos estragos, pelo russo Denis Cheryshev, que marcou (66’) dois minutos depois de ter entrado para substituir Gonçalo Guedes. Mas os espanhóis terão de exibir-se muitos furos acima se quiserem, pelo menos, limpar a imagem no Mestalla, na segunda mão.