As comunicações 5G e alguns factos sobre as mesmas
Torna-se estranho compreender, de um ponto de vista técnico, porque existem pessoas a reclamar de uma rede que vai fornecer mais serviços, de forma mais eficiente e segura, do que as redes actuais.
Tendo verificado que existe uma discussão pública muito pouco informada sobre as futuras redes de comunicação celulares 5G e como essa informação está a enfermar posições de pessoas que deveriam estar mais esclarecidas, senti-me na obrigação de trazer a público alguns factos sobre o futuro das comunicações, para esclarecer alguns medos que aparentemente suscitam.
Facto – A radiação eletromagnética tem impacto na saúde. Nenhum de nós precisa de grandes estudos médicos para saber isto. Todos sabemos que existem tratamentos médicos que usam radioterapia. Mas, e mais do nosso conhecimento do dia-a-dia, basta ter um micro-ondas para saber isso – e espero que nenhum leitor pense colocar algo vivo dentro de um micro-ondas. Mas agora vem o “pequeno” detalhe: o micro-ondas funciona com frequências (“radiação”) muito semelhantes às do wi-fi! E ninguém pensa colocar uma refeição para aquecer junto ao seu Ponto de Acesso wi-fi (ou ao router do seu fornecedor de Internet em casa). E esta diferença deve-se a que:
Facto – Os efeitos da radiação eletromagnética são função do tempo de exposição e da potência da mesma. O nosso micro-ondas continua a fornecer excelentes lições: variamos a potência e o tempo do mesmo em função do que pretendemos em termos de cozinha. Mas também todos nós já verificámos o que significa usar potências muito baixas… e desesperar pela comida não aquecer. Muitos dos estudos que temos visto sobre “os perigos das comunicações móveis” consistem em colocar equipamentos móveis em níveis de potência que não se verificam na prática. Por exemplo, é frequente estudos médicos com ratinhos usarem situações que, transferidas para a realidade do dia a dia, corresponderiam a termos dois Pontos de Acesso wi-fi ao lado da cabeceira da nossa cama, a falarem um com o outro, em permanência, durante semanas, nas suas potências máximas. (Nota: não recomendo que os leitores façam isso na sua vida normal). Mas nas nossas casas, temos os nossos emissores muito longe das nossas pessoas (bastam um ou dois metros de distância para termos grandes diferenças nas intensidades que nos chegam ao corpo), e os potenciais problemas médicos não são facilmente percetíveis (ou demonstráveis) no uso das nossas comunicações diárias. E tudo porque:
Facto – O impacto da radiação eletromagnética diminui enormemente com a distância ao emissor (ponto de acesso, estação base). Para uma dada qualidade de cobertura (p.ex. a rede wi-fi de nossa casa), quanto mais perto do emissor se estiver, melhor. Um mesmo ponto de acesso, para suportar uma área maior, tem de emitir mais potência, e para pequenos aumentos de alcance, a diferença de potência irá ser muito grande. Ter mais pontos de acesso significa que podemos ter potências de transmissão menores. Nesse sentido será sempre melhor termos mais antenas de menor potência, do que menos antenas a emitir maior potência (para um dado nível de qualidade de comunicação). Estas potências estão estritamente reguladas por comissões especializadas (incluindo especialistas médicos), que seguiram o desenvolvimento da tecnologia 5G, de forma a que, mantendo níveis de potência recomendados para as comunicações móveis, se conseguisse que:
Facto – Para a mesma utilização de frequências, a tecnologia 5G será mais eficiente. Para o fornecimento de serviços de banda larga, a eficiência das sucessivas gerações de comunicações móveis (3G, 4G e agora 5G) tem aumentado. Esta necessidade de melhor eficiência (só conseguida por melhorias nas capacidades da eletrónica dos telemóveis) tem sido uma das motivações para o desenvolvimento destas sucessivas gerações de telemóveis. E esta é uma característica que não está associada às frequências usadas. Na realidade,
Facto – A futura rede 5G não implica necessariamente novas frequências. Na Europa, temos três grandes bandas recomendadas, na zona dos (genericamente) 700MHz, os 3.5GHz e os 26GHz. Em Portugal, estamos no processo de normalizar os 700MHz e os 3.5GHz. Como é público e notório dada a controvérsia pública em Portugal, os 700MHz são a frequência onde temos a TDT – e não ouvimos grandes preocupações com a saúde das populações, sendo os atuais emissores de TDT muito mais poderosos do que os futuros emissores das redes móveis. Mais do que isso, é possível aos operadores usarem frequências já existentes e já alocadas (por exemplo para o 4G) para fornecer serviços 5G. Logo, toda a discussão que existe aparece porque:
Facto – As novas frequências são precisas para fornecer melhor serviço. Neste momento, os pedidos da sociedade portuguesa já são suficientes para, em muitas zonas do país, os operadores sentirem necessidade de mais frequências para as comunicações móveis. Quem é que ainda não passou pela sensação de “a rede está lenta hoje”? Este é um problema que não se pode resolver sem mais frequências de utilização, ou sem mais antenas, ou sem uma nova geração de comunicações, mais avançadas. E a sociedade impõe estes requisitos aos operadores porque, felizmente, Portugal tem uma sociedade razoavelmente tecnologicamente avançada, e:
Facto – As sociedades mais avançadas dependem cada vez mais das infraestruturas de comunicação. É reconhecido que as sociedades com melhores serviços, mais dinâmicas e que fornecem melhores serviços aos cidadãos requerem (e continuarão a requerer) uma infraestrutura de comunicações cada vez mais avançada. As redes 5G vão permitir maior eficiência, melhor uso das frequências e novos serviços em todo o país. Para quem tiver dúvidas sobre a importância estratégica destas comunicações para as sociedades, basta seguir a atual disputa mediática entre os EUA e a Huawei, líder mundial na tecnologia 5G.
Torna-se estranho compreender, de um ponto de vista técnico, porque existem pessoas a reclamar de uma rede que vai fornecer mais serviços, de forma mais eficiente e segura, do que as redes actuais. A não ser que estejamos a verificar o aparecimento de uma nova geração de luditas (sugestão: se não souberem a origem da palavra, é mesmo fácil ir ao telemóvel e procurar na Internet.), algo independente das comunicações 5G.