Para onde vão os gestos quando morrem
Antes de fechar definitivamente a porta do Musée de la Danse – o particularíssimo projecto que o catapultou para o MoMA, a Tate Modern e o Reina Sofía –, Boris Charmatz criou o dilúvio de gestos que agora se abate sobre o Porto e Lisboa. 10000 Gestes é o requiem todo cheio de speed com que o coreógrafo francês quis fixar, em pleno movimento, o espírito destes anos de aceleração digital e obsolescência programada.
Três anos depois da estreia de 10000 Gestes, ainda há quem se levante a meio da peça e corra “o mais depressa possível” para a saída do teatro. A morte é uma experiência dolorosa, tendencialmente insuportável – mesmo a morte de um gesto, ou de muitos milhares de gestos (não há uma contabilidade oficial aqui: Boris Charmatz, o coreógrafo deste “cemitério”, como lhe chama com uma liberdade poética que também é pragmatismo, parou de contar assim que a avalanche prometida pelo título ficou cumprida e já não podia ser acusado de violar o pacto maratonista com que este espectáculo alicia o espectador).
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